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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Olá de novo!

 O domínio próprio morreu!

Mas o blog continua vivo (pelo menos por enquanto :)


Por ora deixo aqui o link do mapa completo dos Caçadores de Cachoeiras, o maior legado!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Mudamos de endereço!

Como prometido, o site os Caçadores de Cachoeiras, após 9 anos, trocou de plataforma.
Este endereço (trilhados) continuará no ar com todo o legado postado aqui.

Para novos posts e artigos, visite o novo site:

http://www.oscacadoresdecachoeiras.com.br



sábado, 7 de abril de 2018

Migração do Site

Após anos de "resistência" postando através da plataforma Blogger, chegou a hora de mudar. Isso porque a plataforma se tornou esquecida, mal cuidada e sucateada, e as poucas razões técnicas que nos mantinham lá acabaram por sufocar. 

 Agora, investindo esforços para troca de plataforma, o site estará um pouquinho parado. A mudança não vai ser por questão revolucionária. O site continuará sendo simples, focado principalmente na informação acurada. A mudança será apenas por uma questão técnica - se tornou quase proibitiva a dificuldade de postar o conteúdo no Blogger. 

 Sim, a mudança custa. Não vai ser possível migrar o legado de 9 anos para o Wordpress, por algumas razões técnicas também. Mas todo o conteúdo legado continuará no ar. 

 Enquanto o legado vai continuar no domínio original : (trilhados.blogspot.com), em breve o domínio caçadoresdecachoeiras.com.br vai passar a apontar para a nova plataforma, onde começaremos a postar. Quando isso acontecer, avisaremos também. 

 Enquanto isso, as postagens estão um pouquinho esparsas. Mas... a vida de trilhas e cachoeiras não! Pés à obra!

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Travessia nos Lençóis Maranhenses - sem guia


Travessia Lençóis Maranhenses

Leia também:

Este artigo é organizado nos seguintes tópicos:
1.FAQ - Perguntas básicas
2.Bases para a Travessia
2.1.Os Oásis - Queimada dos Brito e Baixa Grande
3.Tudo o que você precisa saber para fazer a travessia: o que comer, beber, calçar, esperar e onde dormir
3.1.Alimentação
3.2.Água
3.3.Obstáculos durante a travessia
3.3.1.Lagoas móveis
3.3.2.Animais na trilha
3.3.3.O Vento e o sol
3.4.Vestuário
3.5.Calçado
3.6.Pernoites
4.A Trilha
4.1.Aspectos Técnicos da Trilha
4.2.Distâncias entre as bases
4.3.Estratégias de Travessia
4.4.Comparativo de Estratégias
4.5.Opinião sobre a estratégia sugerida
4.6.Tabela de pontos da Trilha, a partir do dia 0 (aqui, não está incluída a logística)
4.7.Descritivo da Trilha
5.Logística - Como chegar e como voltar
5.1.Opções de translados
5.2.Comparativo de translados
5.3.Tabela de eventos da Logística + Trilha : do começo ao fim
5.4.Preços e Gastos
6.Dicas e Complementos
7.Mapa e pontos estratégicos da trilha
8.Relato com fotos
9.Links e Referências

1.FAQ - Perguntas básicas
Em quantos dias dá pra fazer a travessia?
Primeiro é bom ter em conta que existem várias variações dessa travessia. Vai começar de onde? Barreirinhas? Atins?
Canto de Atins?  Vai fazer meia travessia? Ou a completa?

Mas partindo do pressuposto que você fará Atins → Santo Amaro do Maranhão nós sugerimos reservar 7 dias, começando
e terminando em São Luis (isto é, 7 dias com a logística, estando em São Luis).

São 5 dias de trilhas e descansos + 2 dias de logística.

Dá pra fazer em muito menos tempo. Eu fiz a trilha completa em 2,5 dias + 2 de logística, mas foi muito pesado.
Recomendo 7 dias. Fica tranquilo e agradável.

Preciso levar barraca? E Saco de dormir?
A barraca não é imprescindível. É seguro dormir sem barraca, apesar de não ser muito confortável (venta muito). Mas dá
pra fazer a travessia sem barraca, dormindo só num saco de dormir, por exemplo.

A travessia é muito pesada?
Definitivamente não é para iniciantes.
É uma trilha que exige experiência e preparo. Deve-se levar o menos de peso possível. Planejar as pernoites é decisivo para
uma boa travessia.

Qual a melhor época pra se fazer a travessia?
De junho a setembro. Por que? Porque a época de chuvas vai, tradicionalmente, de dezembro a maio. Então de junho a
Setembro chove pouco e as lagoas vão estar cheias.

Como é a questão da água durante a trilha?
Obviamente, vai ter águas nas lagoas. Mas é bom ter em mente que existem animais nos Lençóis. Então as águas não estão
livres de contaminação. Além disso, vendem água nos dois Oásis. Mas atenção: Você vai sentir muita sede e a água que
vende nos oásis não vai ser suficiente, vai precisar tomar água das lagoas. O mais indicado é levar cápsulas de purificação
de água.

Precisa de guia?
Não é obrigatório. Mas tenha em mente que não há absolutamente referência nenhuma, não há trilha, pra todos os lados
é igual. Sem guia, o GPS é imprescindível.

Como é a logística para os pontos iniciais e finais?
“Nível médio”. Há algumas coisas a se preocupar, e pode ser um pouco cansativa. Em linhas gerais, preocupe-se com a
seguinte lista:
  • planejar a logística de São Luis a Barreirinhas,
  • combinar com sua pousada de Atins para te pegar no Porto de Atins com antecedência e
  • reservar translado Santo Amaro x São Luis com antecedência

Nos oásis, no meio da travessia,tem eletricidade? Dá pra carregar pilhas, etc?
Não conte com isso. Eles vivem com geradores elétricos, não disponibilizam tomadas. Pelo menos não nos dois locais que
estive. Leve o que precisar para todos os dias de trilha. Leve pilhas reserva para o seu GPS, não se esqueça.

Em qual sentido é melhor fazer a travessia?
Factível nos dois sentidos, porém sugiro fazer no sentido  Sudeste-Noroeste, isto é , de Atins para Santo Amaro do
Maranhão, devido ao vento a favor nesse sentido.

2.Bases para a Travessia
Bases para iniciar e finalizar a trilha: Santo Amaro do Maranhão, Atins, Barreirinhas
Bases de apoio no meio da trilha: Queimada dos Brito e Baixa Grande.
Veja mais informações dessas bases no mapa (clique nos pontos para ler mais informações)

2.2.Os Oásis - Queimada dos Brito (e Paulo) e Baixa Grande
Existem dois oásis durante a travessia: A Queimada dos Brito/Paulo e a Baixa Grande. São as duas regiões “verdes” no
meio dos Lençóis , veja a foto:



São os únicos locais onde há vegetação e sombra durante toda a travessia. E também únicos lugares dentro dos Lençóis
onde vive gente.

As pessoas que aí vivem estão acostumadas a acolher os mochileiros e aventureiros. Eles estão acostumados a oferecer
os quintais de suas casas para pernoite e também oferecer comida. Para saber os preços do que é ofertado, vá na seção
“Preços e gastos”.
Olhando pela foto parece tranquilo chegar nesse verde. Mas é cansativo. Perceba que a extensão desses oasis é grande,
não é um ponto apenas. Então gasta-se uma boa pernada para vencer esses oásis. Além disso, sem um track marcado é
fácil se perder nos labirintos de saídas desses locais. Se perder você não vai, mas pode perder bastante energia tendo
que, eventualmente, ajustar a direção, caso saia por uma saída errada. No relato do site do aventurebox tiveram a
mesma percepção que eu. A foto a seguir é do relato do site deles (estará na seção referências). Sem um GPS, fica difícil
se orientar.



Essa desorientação aconteceu comigo na saída de Baixa Grande, não foi nada demais, mas acabei perdendo bons
minutos e bastante energia vencendo alguns morrotes de areia, preço que paguei por ter saído de qualquer jeito da
Baixa Grande, tendo que cortar caminhos e subir dunas altas que me tiraram bastante fôlego. Esteja preparado para
acertar direções nas saídas desses locais.

Baixa Grande - Casa da Dete
Pra mim, a recepção na Casa da Dete foi muito agradável. É uma das casas no oásis bem preparada pra receber turistas,
inclusive muitos guias vão com grupos para este local. Oferecem um casarão pronto para pessoas pernoitarem (não é
necessário barraca aqui, você dorme em redes), e oferecem alimentação. Além disso há chuveiros para tomar uma boa
ducha antes de sair para o próximo trecho da pernada.

3.Tudo o que você precisa saber para fazer a travessia: o que comer, beber, calçar, esperar e onde dormir

3.1.Alimentação
Leve a sua alimentação. E que seja leve. Mas também pode contar com (pelo menos) 1 almoço, 1 janta e 1 café da manhã durante a travessia (isso também depende da sua estratégia de onde vai estar em cada momento). Janta e café no oásis que for pernoitar (sugerimos Queimada dos Brito) e almoço na Baixa Grande, quando passar no segundo dia. Pro resto do caminho , leve a sua própria alimentação.

3.2.Água
A travessia vai passando por vários lagos, principalmente se você for em época de cheia. Mas a água pode não ser potável, pois há animais rondando muitos desses lagos, jegues e gaivotas por exemplo. Convém levar pastilhas de purificação da água. Você também pode reabastecer com água engarrafada que os Oásis vendem. Sâo caras, obviamente (em 2016, R$8,00 a garraga de 1,5L) mas na necessidade e pra evitar carregar demais, vale a pena. Tenha em mente que só a água do oásis não vai ser
suficiente pra travessia completamente. É quase certo que você vai ter que tomar água das lagoas.

3.3.Obstáculos durante a travessia
Lagoas móveis no meio do caminho
Existe uma característica bastante peculiar em relação a esta travessia. Ao longo dos anos, as lagoas vão mudando de localização, devido a ação do vento, que transporta a areia cada vez mais pra frente, mudando, consequentemente, a localização das lagoas. É claro que demora anos pra uma lagoa mudar “muito” de “lugar”, mas é bom ter atenção, pois caso você tenha um track de muitos anos atrás, algumas passagens podem não estar exatamente disponíveis como mostra o track. Pode acontecer de você chegar em um ponto e dizer “caralho… como pessoa X passou por esta lagoa?” Talvez aquela lagoa não estava ali quando a pessoa passou.

Também pelo fato de as lagoas mudarem de tamanho dependendo da época (de cheia ou seca), se você pegou um track de alguém que fez a travessia em seca, pode ser que algumas passagens não sejam transponíveis se você fizer a travessia em época de cheia.

Isso quer dizer que você tem que estar preparado para “fazer o seu próprio trajeto”, e não se prender cegamente ao track que estiver usando como base para a sua viagem. O importante é saber qual direção seguir, isto é “tenha o norte”.

Não é incomum você chegar em algum local e ter uma “lagoa no seu caminho”, atrapalhando a sua reta. Há algumas lagoas que são muito grandes e contorná-las pode aumentar significativamente a sua quilometragem total. No meu caso tive a “sorte” de ter as lagoas só mais ou menos cheias, então não tive que contornar nenhuma. Só aconteceu de em uma eu ter que atravessá-la na altura da cintura. Por outro lado, pegar as lagoas cheias é muito mais impactante e bonito. É um considerável perde e ganha.

Já ouvi relatos de amigos próximosque atravessaram lagoas na altura do peito segurando a mochila na cabeça pra não ter que contorná-las. Pode acontecer de haver alguma lagoa intransponível no seu caminho, a menos, é claro, que você molhe a sua mochila e pertences, o que é uma péssima ideia, pois o peso do que deve ser carregado aumentará muito acarretando muito dano à sua jornada.

No excelente relato do site aventurebox, com boas impressões reais da trilha (ótima referência), eles passaram por isso entre Queimada dos Britos e Santo Amaro do Maranhão. Você pode ler esse relato neste link. Veja parte do relato deles:

“Foi, inclusive, o problema que tivemos. Encontramos a maior lagoa da travessia. Chama-se Lagoa das Emendadas, porque trata-se de um conjunto de lagoas que se juntam na época de cheia. Ficamos das 11h da manhã até às 15h atravessando essa mesma lagoa!! Ora passando pela água, ora contornando por um lado, ora por outro. Mas a mesma lagoa. Dá para acreditar?! O problema foi que em determinado momento não conseguíamos avançar na direção correta: não dava pra atravessar pela água, pois estava muito funda e também não havia uma opção para contornar. A única saída foi voltar um trecho enorme e tomar um caminho na direção oposta, pra daí então continuar. Essa brincadeira nos rendeu uns 5km de caminhada a mais do que o esperado”

Esteja preparado para contornar lagoas, se for o caso.
É possível ter uma ideia de quais pontos você pode esbarrar com as maiores, avaliando o google maps e demarcando áreas onde se vê mais água, no geral.

Morrões - Dunas
Dependendo do seu traçado, pode acontecer de as vezes você ter que vencer morrões, que vão drenar bastante a sua energia.

Animais no meio do caminho
A travessia é, no geral, tranquila. Mas você vai se deparar com animais pelo caminho. No meu caso, eu vi vários jegues e muitas gaivotas. Eu tive “casos” com essas duas espécies (mais detalhes no relato ao fim do artigo). Não houve nenhum problema real de fato, apenas sustos.

Tive que desviar meu caminho por causa de um jegue que “me encarou” e em vários momentos fui intimidado por conjuntos de gaivotas que faziam rasantes a poucos centímetro do meu rosto, visivelmente tentando me espantar de perto de “seus ninhos”. Foi uma experiência muito diferente.

De qualquer forma, não é perigoso. Se você respeitar o espaço dos animais, não terá problema. E também não se desespere. Não é porque viu um jegue que ele necessariamente vai te atacar. Eu vi vários jegues (ou similares) durante a minha jornada, a maioria deles desaparecia no horizonte correndo, de medo, ao me ver, mesmo eu estando ainda beeeem distante. Só apenas um desses tantos que vi é que me “encarou” (deu medo). AS gaivotas também não me atacaram de fato. Confesso ter ficado com medo das primeira vezes, eu achei que seria atacado. Depois percebi que tratava-se apenas de uma intimidação, e me acostumei ao ocorrido.

O vento e o sol
Não subestime o vento nesta travessia. Eu decidi fazer a travessia no sentido Santo Amaro do Maranhão → Atins pois queria terminar em Atins, por ser um destino mais legal que Santo Amaro. E é.

Só que nesse sentido você vai ter o vento SEMPRE contra você. SEMPRE. E acredite, o vento não para 1 só segundo. Ele sopra constantemente, sem parar. Sem parar mesmo. A princípio pode parecer bacana, e você pode até achar bom andar com o vento contra você… por uns 20 minutos. Mas depois de 20 minutos, depois de 5 horas, depois de 1 dia de caminhada, você não está aguentando mais “nadar contra a maré”.

Faça no sentido Atins → SAnto Amaro do Maranhão, e tenha o vento a seu favor.

Outra coisa: Durante a noite o vento é mais forte. Dormir nas dunas não é exatamente confortável. Vai entrar areia na sua barraca, ou no seu saco de dormir, prepare uma barricada para evitar o vento tanto quanto possível. Você pode ler qual foi a minha experiência no relato ao fim deste artigo.

Quanto ao sol, por incrível que pareça, não é tão terrível assim. Por que? Por causa do vento. Como está ventando
constantemente, a sensação térmica não é terrível, apesar de você ter sol na sua cabeça sempre também. Mas é claro, você só não vai sofrer com o sol se for vestido adequadamente e passar muito muito muito protetor solar. Se você esqueceu o protetor solar, aborte a missão, a menos que queira morrer.

3.4.Vestuário durante a travessia:
Eu decidi iniciar a travessia usando camisa de manga curta e calça moleton comprida, com chapéu pra proteger do sol (veja fotos). Fiz a travessia com essa vestimenta até o fim muito tranquilo. Como eu disse, como o vento é constante, não se sente calor com roupa comprida. Dava pra fazer inclusive com blusa de manga comprida (própria pra trilha) sem sofrer. Recomendo.

3.5.Calçados
Descalço. Não precisa de tênis. Mas não queima os pés? Não mesmo! Provavelmente, devido, também, ao vento. Como a areia está em constante movimento, a camada superficial de areia é constantemente “trocada”, então não dá tempo de ela esquentar. Por essa razão dá pra ir descalço por toda a travessia. A única parte que pede tênis é em Canto de Atins, mas não é obrigatório.

3.6.Pernoites
É somente nos Oásis - Queimada dos Brito e Baixa Grande - há alguma estrutura para pernoite (estrutura bem simples, mas há). A questão é que os Oásis estão distantes dos extremos da travessia (e ao mesmo tempo os dois estão próximos um do outro). Não fica confortável fazer a travessia completa pernoitando apenas nos oásis, pois não “encaixa” (como você vai ver na nossa explicação detalhada mais adiante, na seção de trilha). Então, tenha em mente que pelo menos uma noite você irá passar em algum ponto aleatório do deserto, onde não há estrutura.

3.6.Onde posso dormir?
Em qualquer lugar durante a trilha. Escolha um lugar onde haja bastante água e tente proteger a sua barraca (ou saco de dormir) do vento.
O vento a noite vai incomodar. Não espere uma noite de um sono super reparador. Mas não se preocupe, vai dar pra tirar um cochilo.


Queimada dos Brito
Baixa Grande
Camas
Rede para dormir
?
Comida (almoço/café da manhã/janta)
- Foto
Água potável
Banheiro
- Foto
Chuveiro quente
Chuveiro frio
?
Energia elétrica
Limitada (por gerador)
Limitada (por gerador)

4.A Trilha
4.1.Aspectos técnicos da trilha
Para saber o significado dos ícones e suas cores, clique aqui.
noun_975028_C82606.png Distância Total
63km
Tempo sugerido
5 dias
Dificuldade física
Fazendo em 5 dias e sem errar nos
oásis, é nível médio. Pode se tornar
facilmente nível pesado.
Dificuldade técnica
Difícil. Sem guia ou gps é praticamente
impossível navegar. Tenha um GPS ou
um excelente senso de navegação com
bússola
Sinalização
Não há.
Estado de conservação da trilha
Não há trilha. É areia areia e areia.
Além disso as lagoas mudam de lugar a cada ano.
Desnível acumulado descendente
Desprezível
Desnível acumulado ascendente
Desprezível, porém, quando você se
deparar com dunas ingremes, isso vai
te sugar bastante energia.
Eventualmente vai acontecer,
dependendo do seu traçado.
Água durante a trilha
É preciso atenção. Dependendo da
época, as lagoas podem estar mais ou
menos cheias. Principalmente entre
Baixa Grande e Atins há alguns trechos
com pouca água, dependendo do seu
traçado.


noun_863478_C82606.pngSombra durante a trilha
A não ser nas Queimadas e na Baixa
Grande, não há sombra durante todo o
trajeto.
noun_178582_F38F19.pngPernoite
Na Queimada dos Britos e na Baixa
Grande há local para pernoite com
estrutura básica, inclusive
alimentação. Mas pelo menos 1
pernoite você vai passar no meio do
nada, sem estrutura alguma.
noun_845491_F38F19.pngGasto durante a trilha
O valor cobrado para alimentação ou
pernoite na Queimada dos Britos  e na
Baixa Grande não é baixo, mas nada de
aterrorizante.

Entrada controlada
Não. Acesso livre.






4.2.Distâncias entre Pontos Estratégicos da Travessia
Vamos começar falando sobre as distâncias entre as bases da trilha, e a partir daí desenvolver a estratégia sugerida.
Origem
Destino
DIstância
Atins
Canto de Atins
~6km
Canto de Atins
Baixa Grande
24km
Baixa Grande
Queimada dos Britos
11km
Queimada dos Britos
Santo Amaro do Maranhão
26km



Note que a distância entre os 2 oásis no meio da travessia é pequeno. As maiores distâncias ficam entre os pontos inicial
e final e os oásis, o que causa um desconforto na divisão de quilometragem para cada dia. Esse é o grande desafio
estratégico da travessia.

Dada essa configuração, seguem 3 estratégias que considero boas para fazer a trilha. Depois de apresentadas as 3, farei
uma comparação dos prós e contra de cada uma e indicarei a minha preferida. Importante comentar que a travessia que
eu fiz de fato foi diferente dessas 3, porque não sabia dos meandros envolvidos.  As sugestões abaixo são pessoais. É o
que eu faria, se fosse repetir a travessia. Podem existir divergências ou questões de gosto envolvidas. Pense na melhor
estratégia pra você, levando as sugestões apenas como referência.
No relato ao fim do artigo você pode conferir qual foi a configuração da minha travessia em 2,5 dias (bem pesado, e com
alguns erros que a tornaram bem complicada)).

4.3.Estratégias de Travessia
Opção 1 - Completa
Dia 1 - Pousada do Sr. Antonio (a 6km de Atins) →  “Ponto aleatório” : 19km (pernoite na areia, sem estrutura)
Dia 2 - “Ponto aleatório” → Queimada dos Britos (centro): 14km
Dia 3 - Queimada dos Britos (centro) → “Ponto Aleatório” : 16km (pernoite na areia, sem estrutura)
Dia 4 - “Ponto Aleatório” → Santo Amaro do Maranhão : 11km
Opção 2 - Mais rápida
Dia 1 - “Ponto aleatório” (17km após Atins) → Queimada dos Brito : 20km
Dia 2 - Queimada dos Brito → Ponto Aleatório (após Queimada dos Brito): (pernoite na areia, sem estrutura) 13km
Dia 3 - Ponto Aleatório (após Queimada dos Brito) → Santo Amaro do Maranhão : 12km
Opção 3 - Meio termo
Dia 1 - “Ponto aleatório” (17km após Atins) → Baixa Grande : 9km
Dia 2 - Baixa Grande  → Queimada dos Britos: 9km
Dia 3 - Queimada dos Britos → “Ponto Aleatório” : 15km (pernoite na areia, sem estrutura)
Dia 4 - “Ponto Aleatório” → Santo Amaro do Maranhão : 11km

4.4.Comparativo de Estratégias
= nossa estratégia sugerida (preferida)

Opção 1 - Completa
Opção 2 - Mais rápida
Opção 3 - Meio termo
Distância total
60km
45km
45km
Maior distância em 1 dia
19km
20km
15km
Tempo total sugerido (para a trilha)
4 dias
3 dias
4 dias
Pernoite na areia (sem estrutura)
2
1
1
Logística
Mais simples
Precisa de condução em Atins
Precisa de condução em Atins
Prós
*Mais desafiadora
*Logística mais simples
*Mais rápida sem ser
pesada demais
*Sem pressa, pernoite nos dois oásis,
curtindo mais os locais.
*Nenhum dia vai ficar extremamente
pesado (máximo de 15km)
Contra
*2 pernoites na areia,isso é cansativo
*Primeiro dia vai ficar bem
pesado (mas é factível)
*Logística em Atins difícil
*Logística em Atins difícil

4.5.Opinião sobre a estratégia sugerida  
A opção que eu escolheria, se fosse repetir essa travessia, seria a opção 3. Sem perrengue, distância razoável para todos
os 4 dias de travessia, sem correr, sem pressa, curtindo os dois povoados (Queimada dos Brito e Baixa Grande), que são
uma das estrelas dessa travessia. Também tiraria o começo da travessia (17km, se der?) que, a meu ver, não tem muito o
que curtir, deixando mais tempo pro que realmente interessa: as lagoas, as dunas e os oásis. É comum que as pessoas
façam a travessia dormindo apenas no oásis, mas eu pessoalmente acho que isso é penoso demais. É que desse jeito
ficam 2 dias com aproximadamente 28km. Isso com sol e mochilão nas costas é extremamente penoso, eu
definitivamente não recomendo. Apesar de dormir na areia não ser confortável, eu acho que é mais confortável dividir a
travessia dormindo na areia do que tentar fazer 26km em um só dia. Eu fiz isso (veja meu relato ao fim do artigo), mas
faria diferente se fosse  (quando for) repetir.

É importante salientar que não sei se é viável “tirar” os 17km do começo da trilha (como eu recomendo nas opções 2 e
3). A minha ideia é cortar esses 17km contratando alguém pra te levar de moto até esse ponto aleatório 17km após o
início. Não sei se as motos podem te levar para ali e pronto. Se isso não for possível, obviamente restaria a opção 1, que
seria a que eu faria.

Na seção “descritivo da trilha” eu vou dar um resumo do que esperar em cada um dos dias da travessia, tomando como
base a opção 1. Por que não a opção 3? Porque não tenho certeza se dá pra fazer a 3. Então prefiro detalhar a que é com
certeza factível e que eu acho razoável: opção 1. Antes de detalhar cada dia de trilha, mostramos um resumo do seu
roteiro completo, incluindo a logística, para completar a travessia tranquilo.

4.6.Tabela de Pontos da Trilha
Dia

Ponto
Distância
(acumulada total)
Distância
(acumulada por dia)
Observação
0

Pousada Nativa
0.00
0.00
Pousada aleatória usada como
referência, está no "centrinho" de Atins
0

Campo de futebol
1.04
1.04
Fica na entrada da vila (entre a praia e a
vila)
0

1.50
1.50
A praia é bem extensa, marquei esse
ponto só como indicativo de que esse
começo da trilha é na orla
0
Pousada Sr. Antonio (Canto de Atins)
6.00
6.00
Aqui que fica o "Canto de Atins", tem
praticamente nada, só umas casinhas
famosas como a Pousada do Sr. Antonio
e o famoso restaurante da Dona Luzia
(onde vende os famosos camarões).
Pernoite da véspera - Pousada do Sr.
Antonio
1

Passada Crítica (Encontro Rio Preguiças com
o mar)
8.53
2.53
No sentido Atins - Santo Amaro, esse
ponto nem é crítico, mas é uma
referência, onde o rio “se encontra pela
última vez” com o mar
1
25.00
19.00
Um ponto qualquer, pra você pernoitar
na primeira noite. Nenhuma estrutura
aqui
2
Baixa Grande (Casa da Dete)
29.00
4.00
Aproveite para descansar aqui. Tome um
refri, tome uma ducha, deite na rede,
converse com os locais, depois siga em
frente
2

32.00
7.00
Apenas um dos vários grandes lagos que
você pode passar no caminho
2

Início do Oásis - Queimada dos Brito
35.85
10.85
O oásis é gigante. Começa a vegetação,
mas você anda bastante até chegar na
"civilização"
2
Queimada dos Brito - "Centro"
38.80
13.80
Aqui onde estão concentradas as
maiorias das casas do Oásis. Procure a
que mais lhe interessa para a Pernoite
da segunda noite. Aproveite esta noite!
(a melhor, da travessia)
3

Queimada dos Paulo - "Centro"
39.70
0.90
Queimada 'vizinha' da Queimada dos
Paulo, fica tudo no mesmo oásis, mas
tem 1km de distância entre as casas dos
'bairros vizinhos'
3

Fim do Oásis - Queimada dos Brito
42.40
3.60
Só 3km depois da Queimada dos Paulo é
que a vegetação some novamente e
você começa a andar de novo nas dunas
3

47.58
8.78
Mais um dos vários lagões que você vai
passar durante a travessia
3

Lagão
51.10
12.30

3
Ponto Aleatório 2
54.70
15.90
Ponto aleatório para pernoite do
terceiro dia. Procure uma boa lagoa para
pernoitar
4

Placa (Lagão)
58.70
4.00
Último lagão antes do fim da travessia
4

65.40
10.70


4.7.Descritivo da Trilha
Para saber o significado dos ícones e suas cores, clique aqui.
Há links nos descritivos. Clique nos links para ver foto associadas.
Dia 1 - Canto de Atins (Pousada do Sr. Antonio) → Ponto Aleatório (19km)
noun_975028_C82606.png19km
9h
R$0,00
18km
noun_863478_C82606.png
noun_81057_C82606.png
noun_981885_C82606.png






noun_81057.pngDescritivo
Esse é o dia mais difícil da travessia. Os primeiros quilômetros não são muito legais, há poucas ou nenhuma
lagoa, é preciso ficar bem atento ao GPS e seguir na direção certa. Dependendo da época em que você for pode
acontecer de você não passar por nenhuma lagoa. Muita atenção ao estoque de água que estiver levando. Como,
a meu ver, essa é o dia mais crítico da travessia, sugiro começar a caminhada de madrugada para diminuir o sol
nas costas e necessidade de água.

Não se esqueça: não há placas, não há trilha e não há sombra. Talvez também não haja água. Você está em um
deserto. Leve o mínimo necessário em sua mochila.

Pode ser que eu tenha visto poucas lagoas, pelo trajeto que fiz, talvez se você for direto mais pelo meio da areia,
se encontre mais com água. Então não leve as minhas direções como pétreas. Mas na minha experiência, eu vi
pouca água nesse primeiro dia. (Tudo bem que, grande parte dele fiz de madrugada, talvez eu apenas não tenha
visto por falta de luz mesmo).

A travessia começa pela orla. Depois de andar 4km pela orla, você pode começar a entrar para as dunas (Se der).
Eu, particularmente, não consegui fazer essa “linha reta” em direção à Baixa Grande, pois o terreno era ruim de
andar por aí. Eu tive que andar mais pela orla (veja o mapa para entender o que estou falando). Mas se for
possível e ok já ir em linha reta, faça-o. A chance de encontrar lagoas dessa forma também é maior.

Marque 19km para o fim desse primeiro dia. Se der pra andar mais, ande, pois assim deixa os outros dias mais
leves e com mais tempo para curtir oásis e lagoas. Não se esqueça de começar a parar quando encontrar uma
boa lagoa para pernoitar.
noun_845491.pngGastos
Nenhum gasto neste primeiro dia.
noun_178582.pngPernoite
Na areia, sem estrutura. Pare onde achar melhor. Lembre-se de procurar algum lugar que tenha menos vento, se
possível. E onde houver água, obviamente.
Fique tranquilo, não há perigo.
Venta muito no entanto, durma o que for possível.
Dia 2 - Ponto Aleatório  → Queimada dos Brito
noun_975028_C82606.png18km
9h
noun_845491_F38F19.pngR$100,00
noun_237770_70C041.png2km
noun_967909_F38F19.png
noun_863478_C82606.png
noun_178582_F38F19.png
noun_81057_C82606.png
noun_981885_F38F19.png






Comece o dia tranquilo, mas preparado para um dia tão longo quanto o primeiro.  A boa notícia é que vai passar
pelos dois oasis, dando pra recuperar as energias de forma mais eficiente.

Após aproximadamente 7km de caminhada nesse primeiro dia você irá chegar ao primeiro oásis: A Baixa Grande.
A entrada no oásis é meio confusa. Um labirinto de arbustos e caminhos confundem pra onde você deve ir.
Atento ao GPS para passar perto da Casa da Dete. O oásis é uma área grande, sem GPS não é dificil passar pela
extensão do oásis inteira passando batido pelo abrigo.

Decida se vai almoçar por aí ou não. Depende de como foi seu primeiro dia. Se chegar muito cedo em Odete,
sugiro apenas um refri ou água, uma leve chuveirada e vá para Queimada dos Britos, assim aproveita o por do sol
e mais tranquilidade por lá. Mas é com você: é uma boa opção parar um tempo pela casa da Dete também. Não
se esqueça que faltam ainda 11km até a Queimada dos Britos.

Siga tranquilo até lá.
noun_845491.pngGastos
R$30,00 - refeição em baixa Grande
R$30,00 - refeição em Queimada dos Brito
R$30,00 - pernoite em Queimada dos Brito (estimado)
R$10,00 - compra de água
noun_178582.pngPernoite
Na Queimada dos Brito-Paulo existem cerca de 10 casas onde você pode pedir para dormir no quintal. As pessoas
recepcionam numa boa e oferecem esse serviço. Um local pra montar a barraca e refeições (janta e café) se
desejar.
Dia 3 - Queimada dos Brito → Ponto Aleatório (pós Queimada) (15km)
15km
7h
R$0,00
noun_237770_70C041.png~3km
noun_863478_C82606.png
noun_981885_C82606.png






noun_81057.pngDescritivo
Neste dia você vai começar a sentir suas pernas de verdade. São 15km com algumas boas lagoas pela frente. Siga
em frente. Aproveite as lagoas.
noun_845491.pngGastos
R$0,00
noun_178582.pngPernoite
Na areia, sem estrutura. Pare onde achar melhor. Lembre-se de procurar algum lugar que tenha menos vento, se
possível. E onde houver água, obviamente.
Fique tranquilo, não há perigo.
Venta muito no entanto, durma o que for possível.
Dia 4 - Ponto Aleatório (pós Queimada dos Brito) → Santo Amaro do Maranhão
11km
6h
R$0,00
noun_237770_70C041.png~32km
noun_863478_C82606.png
noun_981885_C82606.png







noun_81057.pngDescritivo
11km para finalizar. Sem mistérios pra quem chegou até aqui.  Os últimos 40 minutos vão ser chatos, porque é
sobre areia fofa, entrando na cidade.
Siga direto para Santo Amaro do Maranhão.
noun_845491.pngGastos
R$0,00

5.Logística - Como chegar e como voltar
5.1.Opções de Translados
*A tabela a seguir é um resumo dos translados disponíveis para os 3 trechos para realizar a travessia. Os trechos que fizemos
está marcado com o ícone . Os outros dados foram obtidos na internet , nos próprios sites das empresas (na seção links e
referências há links para todas as empresas que oferecem esses serviços)
*A tabela a seguir possui uma versão estendida com mais informações como: quorum minimo, ponto de embarque, site das
empresas neste link
Origem
Destino
Distância do trecho
Dias
Horários
Tempo de viagem
Tipo
Preço por pessoa
Telefone
São Luis
Barreirinhas
252km
Sob consulta

4h
Carro comum
R$350.00
(98) 3258-9239
Sob consulta

4h
Carro comum
R$70.00
(98) 3258-9239
Sob consulta
4h, 6h30min,
7h ou 15h (a
combinar)
4h
Van/Microônibus
R$70.00
(98)
99217-9600
Todos os dias
Entre
6h30min e
8h
4h30min
Van/Microônibus
R$80.00
0800 717 7701
Todos os dias
6h, 8h45min, 14h, 19h30min
4h30min
Ônibus
R$51.00

Barreirinhas
Atins
44,5km
Sob consulta
A combinar
1h
Voadeira (lancha)
fretada
Entre R$250 e
R$350 (total, não
é por pessoa)
(98)
981-217-141
Todos os dias
(exceto
sábado)
Entre 11h e
12h
1h
Voadeira (lancha)
de linha
R$40.00
(98) 988-328-787
Todos os dias
Entre 8h30 e 9h30min
2h (?)
Voadeira (Tour)
Entre R$60,00 e
R$110,00

25km [1]
Sob consulta
Entre 7h e 9h
(a combinar)
2h
Toyota (4x4 / Jardineira)
Entre R$25,00 e
R$30,00
(98)
988-718-498
Santo Amaro
São Luís
225km
Sob consulta
13h30min
4h30min
Van + 4x4 (por 15
minutos)
R$90.00
(98)
987-175-357
Sob consulta
Entre 3h e 5h da manhã (a combinar)
5h
4x4 (1h30min até
sangue) + Van
(3h30min)
R$60.00
(98)
988-089-190
[1] - Há sites que informam que a distância é de 40km. Olhando para o Google Maps dá 27km. Porém, não
fizemos esse trecho por via terrestre, então não temos certeza dessa distância. Fizemos por via hídrica (essa
com certeza).

5.2.Comparativo de translados
Trecho
Tipo
Menor preço
Tempo
Prós
Contras
São Luís - Barreirinhas
Carro comum
R$70.00
4h
*O mais rápido dos 3
*Te pega no hotel
*Depende de quórum
*Provavelmente vai sair mais
caro
Van/micro-ônib
us
R$70.00
4h30min
*Te pega no hotel
*Depende de quórum
*Menos confortável que o
carro
*Pode dar muitas voltas na
cidade para pegar todos os
clientes, por isso não
necessariamente vai ser mais
rápido que ônibus comum
Ônibus
R$51.00
4h30min
*O mais barato dos 3
*Independe de quórum
*O mais confortável dos 3
*Você precisa de deslocar
para a rodoviária para
embarcar
Barreirinhas - Atins
Voadeira
fretada
R$250.00
1h
*Sempre disponível, só
contratar
*Horário flexível
*Rápido
*O mais caro
Voadeira de
linha
R$40.00
1h
*Não é tão caro
*Rápido
*Não funciona aos sábados
Voadeira - Tour
R$60.00
2h ?
*O mais divertido
*Indicado pra quem não
está com hora contada pra
chegar em Atins
*Tempo depende do grupo
no passeio
Toyota -
Jardineira
R$25.00
2h
*O mais barato
*O menos confortável
Santo Amaro - São
Luis
Toyota (15min)
+ Van
R$90.00
4h30min
*O mais rápido
*O mais confortável
(menos tempo de 4x4)
*Sai a tarde
*O mais caro
Toyota
(1h30min) +
Van
R$60.00
5h
*O mais barato
*Sai de madrugada
*Demora um pouco mais
*1h30min da viagem é em
4x4 (desconfortável)
*Tem baldeação que as vezes
demora um pouco , no meio
do caminho

5.3.Tabela de eventos da Logística + Trilha : do começo ao fim
Clique nos links para ver fotos
Dia
Horário
Evento
Preço
Observação
1
13:00 - 13:30
Táxi do seu Hotel para Rodoviária de São
Luis
R$30.00
*valor depende de onde você estiver hospedado
1
14:00 - 18:30
Translado de ônibus, São Luis -
Barreirinhas
R$51.00

1-2
18:30 - 08:00+
Pernoite em Barreirinhas, hotel a sua
escolha
R$60.00
*Já combine por telefone o desembarque em
Atins com a sua pousada em Atins que você fará
amanhã (o desembarque em Atins é meio
dificil)
*Valor sugerido. depende da pousada escolhida
2
08:00 - 09:00
Café da manhã em Barreirinhas
R$0.00
*considerando que a pousada oferece o café,
incluido na tarifa.
2
11:00 - 12:00
Translado de voadeira de linha para Atins
R$40.00
*Confirme o horário de embarque (é variável,
depende do dia)
*Não pode ser sábado
2
12:00 - 14:00
Chegada e almoço em Atins
R$30.00
*Preço sugerido
2
14:00 - 17:00
Caminhada ou translado até Canto de
Atins (4km)
R$0.00
*Não sabemos dizer se há condução que te leve
até o ponto onde vai pernoitar. Se não tiver, é o
esquentar de motores, andando mesmo
2-3
17:00 - 06:00+
Pernoite em pousada em Canto de Atins
R$90.00
*Valor sugerido. depende da pousada escolhida
3
6:00 - 7:00
Café da manhã na pousada
R$0.00

3
07:00 - 16:00
Trilha dia 1 - até ponto aleatório nas dunas
(19km)
R$0.00
*Gerencie bem a sua água durante a trilha
3-4
16:00 - 04:00+
Pernoite no ponto aleatório nas dunas
R$0.00
*Acorde cedo para minimzar tempo de sol forte
durante a trilha
4
04:00 - 07:00
Início trilha dia 2 - até Baixa Grande (4km)
R$0.00

4
07:00 - 08:30
Descanso / refeição em Baixa Grande
R$30.00
*Escolha se vai almoçar aqui. Mas sob pena de
chegar mais tarde em Queimada dos Brito
4
08:30 - 13:30
Segunda parte da trilha dia 2 - até
Queimada dos Brito (10km)
R$0.00

4-5
13:30 - 05:00+
Descanso, refeições e pernoite em
Queimada dos Brito
R$70.00

5
05:00 - 14:00
Trilha dia 3 - até ponto aleatório nas dunas
(16km)
R$0.00
*Escolha um local com uma bela lagoa para
parar
5-6
14:00 - 06:00+
Descanso e pernoite nas dunas
R$0.00

6
06:00 - 14:00
Trilha dia 4 - até Santo Amaro (11km)
R$0.00

6-7
14:00 - 08:00+
Pernoite em Santo Amaro do Maranhão
R$90.00
*Valor sugerido. depende da pousada escolhida
7
08:00 - 10:00
Café da manhã na pousada
R$0.00

7
10:00 - 13:00
Descanso na pousada
R$0.00

7
13:30 - 18:00
Translado de 4x4 + van para São Luis
R$90.00


5.4.Preços e Gastos
Quanto você vai gastar fazendo a travessia dos Lençóis Maranhenses?
(Partindo do pressuposto que você está em São Luis)
R$51,00
Passagem de ônibus São Luis → Barreirinhas
R$100,00
Pernoite e refeições em Barreirinhas (estadia média)
R$40,00
Voadeira de “linha”, trecho Barreirinhas → Atins
R$150,00
Pernoite e refeição em Atins (ou Canto de Atins)
R$20,00
Dia 1: Refeições na trilha (incluindo pernoite 1), por sua conta - estimativa
R$30,00
Dia 2: Almoço na Dete (Baixa Grande) - meio da trilha
R$70,00
Dia 2: Pernoite e refeições em Queimada dos Brito (meio da trilha)
R$30,00
Dia 3 e 4: Refeições na trilha (incluindo pernoite 3), por sua conta - estimativa
R$90,00
Pernoite e refeição em Santo Amaro (fim da travessia)
R$60,00
Traslado van + 4x4 , do Denilson , trecho Santo Amaro → São Luís


TOTAL

R$641,00
Por pessoa (valor total não inclui passagens aéreas)
Observações:
*Valor não compreende passagens aéreas da sua origem à São Luis.
*Valores de estadias e refeições são estimativas, podem variar bastante dependendo de suas decisões.
*Valores de translados retirados do Viaje na Viagem, aqui . Fizemos toda essa logística, e é por aí mesmo, mas nossos valores
são de Setembro de 2016, então os da Viaje na Viagem estão mais atualizados.
*Há várias opções de traslados em todos os trechos, dependendo de suas decisões o preço pode variar bastante. A lista de
valores apresentados é uma sugestão “média” com base em várias decisões de estadia e alimentação.

6.Dicas e Complementos
*Antes de ir para Atins, planeje a sua estadia lá. Reserve sua pernoite com antecedência e ligue para a pousada te pegar no
porto de Atins.
*Sugerimos começar de Canto de Atins, pulando 6 kms entre Atins e Canto de Atins que não tem atrativo nenhum.
*Não subestime o vento nesta travessia. Faça a travessia com ele a seu favor, ou seja: Atins → Santo Amaro do Maranhão
*Se esqueceu o protetor solar, aborte a missão, a menor que queira morrer.
*Teste o seu GPS antes da trilha. Se possível, tenha um plano B (GPS reserva ou bússola com mapa impresso).
*Leve pelo menos 2 lotes de pilhas reservas para o seu GPS e guarde os os lotes em lugares separados, caso aconteçam
eventualidades com algum deles.
*Não se esqueça da lanterna. Pelo menos em um dia sugerimos iniciar a caminhada de madrugada pra fugir do sol.
*Planeje dormir pelo menos 1 dia nas dunas (fora dos oásis). Vai melhorar sua estratégia, apesar de a dormida em si não
ser muito confortável.
*Leve cápsulas para purificar a água que vai captar das lagoas para beber.
*Esteja preparado para atravessar lagoas a nado no meio do caminho.
*Você vai esbarrar com animais durante a trilha. Não é perigoso, mas é sempre bom estar atento.
*Planeje sua viagem entre junho e setembro. Assim há maior chance de pegar as lagoas cheias e de pegar menos chuvas.
*Leve pouco peso na sua mochila! Seus pés vão te agradecer eternamente. Sério. Leve pouca roupa, não vai precisar. Tire
tudo que der.
*Na chegada e na saída dos oásis é fácil ficar desorientado. Olho no GPS nesse momento.
*Não precisa de tênis. A areia das dunas é morninha, não queima! Então leve o tênis mais leve que tiver (só vai precisar
dele pra usar no aeroporto e cidades, na trilha não vai).
*A caminhada em Atins e em Santo AMaro do Maranhão é cansativa, pois a areia é fofa e quente. Nao subestime essa
parte.
*Planeje o início de pelo menos um dia pra sair de madrugada e evitar sol por durante todo o trajeto. Saia bem cedo.
*Tenha o vento a seu favor
*A noite o vento é mais forte

7.Mapas e Pontos
Downloads:
gearth.png - kml

8.Relato - com Fotos
Dia 1 - O Erro de Cálculo
Cheguei à São Luis cansado, pois já tinha vindo direto da Chapada dos Veadeiros. A travessia dos Lençóis era pra fechar minha viagem com chave de outro. Mas confesso que estava cansado, então sabia que não começaria a travessia dos Lençóis em 100% da minha capacidade física. Além disso, eu sabia que a minha mochila estava pesada para os níveis que estou acostumado. Isso se deu porque eu vinha carregando itens do resto da viagem que não seriam necessários pra Travessia dos Lençóis, mas eu estava disposto a enfrentar essa dificuldade. Previamente já havia reservado uma vaga na van do Denilson, que me pegaria no albergue onde eu estava, às 2 da manhã. Tratei de tentar dormir cedo pra descansar um pouco, pois no outro dia ja chegaria em Santo Amaro e iniciaria a trilha direto, sem descansar. As 2h acordei um pouco tenso, porque tinha medo de alguma coisa dar errado com o translado. De fato, o translado se atrasou (o que é normal até, porque ele tem que pegar várias outras pessoas espalhadas pela cidade). A van passou no albergue só as 2h40min da manhã, o que pelo menos, a partir daí, me fez ficar um pouco mais tranquilo. Tratei de escolher um banco relativamente confortável pra que eu pelo menos conseguisse tirar uma sonequinha, e até que consegui dormir bem na van. Bom, pelo menos até quando chegamos, finalmente, à Sangue, o distrito onde as vans param pra que troquemos de veículo. É onde descemos da van e subimos na 4x4 pra fazer o resto do percurso até a cidade de Santo Amaro.
Baldeação em Sangue Eram já 6h da manhã quando descemos da Van pra trocar de veículo. Esse momento da troca de veículos é meio confusa, muitas vans chegando, muitas 4x4 esperando pessoas, fica uma leve tensão de que alguma coisa possa dar errado. Mas magicamente as coisas dão certo, sempre tem vaga pra todo mundo e todo mundo é alocado em alguma 4x4 para seu destino final. Subi na 4x4, já, nesse momento, sem possibilidade de dormir, porque a 4x4 é abertona e você tem que ir alerta por causa da estrada de terra. Achei que era tarde, a viagem de São Luis a Sangue foi mais demorada do que eu achava que seria (ou lembrava). Eu achei que as 6h da manhã já estaria em Santo Amaro, mas tudo bem... ainda era bastante cedo, isso não era motivo de preocupação. Como a estrada de Sangue à Santo Amaro está sendo pavimentada, o trecho foi feito até que bem rapido. Em 1h já estávamos em Santo Amaro, as pessoas foram descendo em seus respectivos pontos. O motorista me perguntou em que pousada eu iria ficar no que respondi: "nenhuma, me deixe em um lugar que sirva um bom café! hehe" Ele achou o pedido inusitado e perguntou se eu iria fazer a travessia? Respondi que sim. Ele perguntu "sozinho?" "sim" disse. Ele deu uma risada, mas não foi uma risada jocosa, foi uma risada do tipo "uai... bacana". achei legal, hehe. me senti O cara. Ele me deixou então no centrinho de Santo Amaro e indicou um local pra eu tomar café.
Tomando o Café da Manhã e partindo pra guerra Era uma casinha bem simples. Perguntei o que tinha de café. Bem, café ( :) ), e pão com ovos, somente. Pedi dois pães com ovos pra começar o dia bem e forte. E tomei uns dois copinhos de café. Fui ao banheiro, e então, aproximadamente as 8h30min iniciei a caminhada. Eu já conhecia Santo Amaro (tinha ido a primeira vez em 2012) então sabia mais ou menos como se daria o início da travessia.
Rua de Santo Amaro do Maranhão - do lado da praça principal
De qualquer forma, aquele início de caminhada foi bem chato. É porque a areia na "civilização" é bem diferente da areia nas dunas propriamente ditas. Na civilização a areia é mais fofa, mais quente e muito mais difícil de se vencer a pé. A caminhada nas dunas de fato só começou uns 40 minutos depois de eu começar a andar, pois foram 2,40km de areia fofa da civilização (parte chata).

Areia fofa perto de Santo Amaro - essa parte é meio enjoada de andar
Feito isso: pronto! Não aguentava mais demorar tanto pra começar de fato! Comecei a andar nas dunas descalço, com os chinelos pendurados caso precisasse. Eu sabia que minha mochila estava pesada, mas eu estava me sentindo bastante disposto.


Aspecto geral das dunas
Os primeiros 10km foram bem tranquilos e próximo dos 8 ou 9km eu vi a primeira lagoa bem grande com muita água (achei que demorou bastante pra ver lagoa nesse estado, eu achei que ia ver as lagoas muito mais cheias.) Mas enfim, estava bonita. E como presumi que as lagoas não estavam tãaaao cheias assim (por ter encontrado essa primeira só na marca dos 9km) , parei por ali pra nadar um pouco e tirar algumas fotos. Havia apenas um casal na lagoa, que havia chegado de jipe (o jipe estava parado um pouco ao lado). Essa lagoa deve ser bem famosa (naõ sei o nome), porque avistei uma placa a uns 200 metros paralelo a onde estava andando, estava a cerca de 500m da lagoa essa placa.
Aproveitei um bocado, meia hora mais tarde botei a mochila nas costas e continuei, porque sabia que ainda faltavam uns 10km para aquele primeiro dia. (Isso era o que eu pensava) A partir dos 10km, o cansaço começou a aparecer um pouco. Até que não sofri com o calor: e não se sofre com o calor em geral - por incrível que pareça - isso acontece porque o vento é constante e incessante. Sempre bem forte, então a sensação térmica não é alta. No entanto, é uma pegadinha: nunca se esqueça do protetor solar! Passei bastante. Eu estava sofrendo mesmo era com o peso da mochila. Estava muito pesada, e foi na segunda parte do dia que eu senti isso muito.




Na água é só alegria

Continuei andando, e a partir do quilômetro 10 reparei que o 2 Litros de água que eu estava carregando não seriam suficientes pra terminar o dia (eu já sabia disso) mas tentei poupar o máximo possível, e beber o mínimo possível das lagoas, apesar que desse ponto em diante (parte da tarde) sempre que eu passava em uma lagoa com muita água e mais deserta , eu tomava água dela. Sabia dos riscos, mas tomei direto, sem usar nenhum tipo de purificador (não recomendo - mas foi o que fiz), pra poupar a água boa que estava carregando nas costas.

Quando o GPS alcançou a marca de mais ou menos uns 17km no acumulado do dia, eu comecei a ficar aliviado pois sabia que estava chegando (pelo menos era o que eu achava) Não sei porque cargas d'água eu havia pensado que o primeiro dia seriam apenas 20km. E acho que mais ou menos nessa marca de 17km eu decidi dar uma olhada mais meticulosa no GPS (nas distâncias) e reparei que não faltavam só 3km nem ali e nem na China. Em uma de minhas paradas fiz uma nova estimativa e presumi que na verdade faltavam mais uns 5km.

Usando a Reserva - Sinal Amarelo A partir do 18km acumulado em diante, eu comecei a olhar direto pro GPS - isso significava que as minhas forças estavam começando a acabar e eu desejava muito chegar ao destino do primeiro dia de uma vez. Eu estava bem cansado no fim de tarde, a minha perna esquerda estava doendo (a panturrilha). Nesse finalzinho eu passei por vários lagos bonitos e parei em TODOS que podia. Era a única forma de ter força pra continuar a andar o resto dos quilómetros que faltavam pra terminar o dia. O grande problema começou quando a cada km que eu andava, eu fazia uma reestimativa de quanto mais ainda tinha que andar e pareciam brotar kms do nada, sempre faltava mais 1km adicional que eu ainda não havia contablizado! Eu já tinha ultrapassado os 23km do dia e nada da Queimada dos Britos aparecer! Não duvidei do GPS porque eu tinha duas rotas marcadas e um gps reserva, então estava sim tudo ok no quesito tecnológico da coisa. Mas faltou um pouco mais de análise sobre a dimensão da queimada. Se vc olhar pelo Earth, vai reparar que a Queimada dos Britos tem cerca de 6km de extensão (6 fucking km!) E os primeiros kms não tem absolutamente nada, a não ser arbustos e areia. É uma parte bem chata.
A Planície interminável - o castigo Na marca dos 24km eu finalmente cheguei na planicie dos Brito, só que, como eu disse, essa planicie nada mais são que arbustos e muita, muita areia em um terreno plano. (é onde começa o verde no Earth).
Início do Oásis Queimada dos Brito - no sentido Santo Amaro x Atins
Dali eu conseguia enxergar pessoas no horizonte, em cima de uma duna, beeeem longe, vendo o por do sol (ou estariam ela me vendo e rindo de mim?) Em certo momento , nessa gigante planície (porta de entrada dos Britos), um jipe a cerca de uns 800 metros de mim estava indo em direção aos Britos e começou a buzinar. Eu ouvi as buzinas, mas como estava muito longe, eu não sabia direito se eles estavam buzinando pra mim e me oferecendo carona. Presumi que sim. Mas eu não correspondi. O meu orgulho falou mais alto e disse: "vc é um homem ou um rato?Veio aqui pra fazer a travessia a pé ou pra andar de carro?" O jipe se foi em direção a Britos e eu continuei andando. Mas... a cada 100m eu me arrependia um pouquinho de não ter pegado uma carona. Já eram agora quase 18h e o sol já estava começando a se esconder. As pessoas lá no horizonte vendo o por do sol desapareceram (acho que elas estavam lá pra ver o sol mesmo, e não me esperar!) e eu, a pé, não chegava nunca naquele horizonte! Quando andei mais uns 500m eu já tinha me arrependido COMPLETAMENTE de não ter aceitado a carona do jipe, e me chamei de burro incessantemente a cada alerta de dor que meus pés me davam. Aquele finalzinho , planicie dos brito não tinha nada de legal, e eu realmente estava exausto. A minha velocidade estava a 3km por hora (andando), mas na média total eu estava a ridiculos 2,5km/h! Era uma média TERRÍVEL - baixíssima. Mas eu fiz o meu melhor. O GPS agora marcava 26km, INACREDITÁVEIS 26 FUCKING QUILOMETROS! E incrivelmente, eu ainda não tinha avistado uma casa para me acolher, me dar comida , água e me deixar dormir! Não podia faltar mais de 1km. Sério! Se faltasse eu juro que ia desmaiar.

No final, eu estava andando de 500 em 500 metros, minhas pernas não aguentavam mais. De repente vi algumas pessoas andando pelas dunas, presumi que agora estava bem perto. Graças a dios! Eu só precisava deitar minhas pernas, só isso!
Chegando à civilização nas últimas - Queimada dos Paulo Quando o GPS marcou 27km eu finalmente cheguei à 'civilização', a Queimada dos Britos - que mais tarde vim a descobrir que era a Queimada dos Paulo! (anterior a Queimada dos Brito). Quando passei pela primeira casa da civilização, uma pessoa estava na porta, eu nem falei oi: perguntei (só retoricamente , porque eu sabia que a resposta era sim) se as casas lá ofereciam comida, água e teto. Ele confirmou (como eu esperava) e disse que ele inclusive oferecia. Eu teria ficado por ali mesmo se o meu gps não estivesse acusando que o ponto que eu tinha planejado parar ainda estava a uns 2km daquele local. Caralho, DOIS quilômetros. Eu gostaria de parar lá, mas isso significaria mais 2km pro segundo dia. Puxa daqui , perde de lá!


Primeira casa da Queimada dos Paulo
Mas a verdade é que eu não aguentava andar mais nenhum quilômetro. Não mesmo. Apesar que eu pretendi completar mais dois, quando estava passando pela terceira casa da "civilização", um morador (que estava um pouco alcoolizado) disse que eu poderia ficar por ali. Eu perguntei se havia mais casas adiante, ele respondeu que só havia essa dele e mais uma, o que me assustou. É que de acordo com o gps, como eu disse, ainda faltavam 2km! Mas quem sou eu pra contestar o que o morador da Queimada estava dizendo? Provavelmente a marcação do GPS não estava certa. Por um lado aquilo era ótimo porque eu não aguentava mais nem dar nem mais um passo. Por outro lado, aquilo significava que deviam ser adicionados mais 2km na conta do segundo dia. Mais tarde eu vim a descobrir que ali onde eu estava era a Queimada dos Paulo, e de fato na dos Paulo só tinha mais uma casa e pronto. A queimada dos Britos ficava a 2km dali ainda, e era esse o ponto marcado no GPS. Mas do jeito que eu estava no fim daquele primeiro dia, eu vi como única opção parar por ali mesmo (mesmo porque eu achei que ali já era a Queimada dos Britos - não sabia que tinha uma queimada antes). Sendo resgatado por um bêbado
Eu aceitei ficar na casa desse morador (apesar que ele estava alcoolizado e eu sabia que não estava ficando na melhor casa disponível) Além de tudo, eu não tinha mais nem um pingo de energia para pensar em estratégias que dependessem de mais caminhada. Acredite, eu estava nas últimas. Um farrapo! Assim que o dono (eu acho) da casa me recepcionou, ele me levou até o espaço reservado para visitantes (eles já estão acostumados), e ele falou que eu podia montar minha barraca ali. Eu estava tão, mas tãaao cansado, que perguntei a ele se era possível dormir só botando o saco de dormir e pronto (pra não ter que montar a barraca) e ele falou que podia tranquilasso! Mas depois de pensar por mais alguns momentos, achei melhor montar a barraca pra ficar mais isolado de alguns sons (que por ventura houvesse na casa) e de algumas luzes que estavam iluminando por ali. Logo depois a isso, a comadre (segundo ela mesma disse) do dono da casa veio falar comigo e perguntou se podia já servir o jantar. Eu lhe disse que por favor. (Não me lembro mais os nomes dos donos da casa...) Enquanto a dona da casa preparava o meu jantar, o Pedro (filho deles) ficava curioso vendo eu montar a barraca. Eu tentava ser simpático, mas confesso que estava bem dificil esboçar simpatia dado o bagaço que eu estava. Eu só queria mesmo tomar 2 litros de água e ir dormir. O dono da casa que estava um pouco alcoolizado me apontou o seu sogro, que estava de cadeira de rodas. Inicialmente eu disse "ah, legal, vc mora com seu sogro...", o dono da casa disse "sim... eu arrumei uma cadeira pra vc aqui ó..." e então ele ficou olhando pra mim. Eu demorei um pouco a entender que ele estava sugerindo que eu deveria conversar com ele, o sogro. Eu senti que era tipo meio que um rito de passagem, eu não podia ir dormir sem antes ter uns dedos de prosa com o sr.... (droga, esqueci o nome) que iria me contar um pouco a história do local. Depois que entendi a sugestão, me prontifiquei a parar tudo que estava fazendo, pra sentar e ter uma prosa com o sr. Eu tinha que fazer as honras! O sr. ficou bem feliz (eu percebi, ele aparentou) de ver que eu havia me sentado para conversar com ele. O dono alcoolizado botou uma cadeira de frente para o sr. cadeirante, e então conversamos um pouco. Eu lhe perguntei se ele sempre havia vivido ali. E ele disse que sim. Perguntei um pouco sobre a origem do nome "Quebrada dos Britos" e foi aí que ele me disse que na verdade ali era a "Queimada dos Paulo" que era a familia dele. Ele comentou que a Queimada tinha gente vivendo desde 1050. Bem.. eu achei essa data meio estranha, hehehe... eu não sei se ele falou errado ou eu entendi errado? Não é possível que seja 1050, não é mesmo? Será 1950? Eu acho que é, pelo que eu havia lido. Mas enfim, A queimada dos britos e dos Paulo são uma do lado da outra, mas separadas por 1km e pouquinho. Há 5 casas na Queimada dos Paulo e mais 5 na Queimada dos Britos (são 10 no total). As Queimadas dos Britos e dos Paulo é como se fossem dois bairros.
A Janta e a atração da noite (eu) Após conversar com o sr. cadeirante, fui comer minha janta que já estava servida. O Wiliam, amigo meu, tinha comentado que a comida era cara e não valia taaaanto a pena, mas dado o estado que eu estava, valia sim, muuuito a pena mesmo se fosse só um pao de queijo. O momento da janta foi um momento bastante peculiar. Eu me sentei à mesa sozinho (o jantar foi servido só para mim). E aí as seguintes pessoas ficaram me olhando comer: -a dona da casa -o dono da casa -os 3 filhos dos donos -o sr. caideirante -um tio -uma tia. Tipo, enquanto eu sentado metia o garfo na comida, eles, de pé, me olhavam comer, TODOS ELES, me olhando comer, em silêncio. EU sentado, eles em pé em volta de mim, como se eu fosse uma atração de zoológico. Assim me senti! haha Logo perguntei se eles queriam comer? No que todos responderam "já jantamos" e continuavam me olhando, em silêncio. Foi um pouco desconcertante :D mas logo me acostumei à situação, ou talvez a fome tenha vencido a vergonha e jantei tudo. Acabada a janta quase todos se dispersaram, mas o tio das crianças veio conversar um pouco comigo. Eu aproveitei esse momento pra lhe perguntar se haveria como eu arrumar uma carona de moto pra algum ponto. (Sim... já era certo pra mim que eu não ia conseguir completar a travessia completa) e de duas eu teria que escolher uma: ou pedir uma moto pra me levar de volta à civilização e curtir os outros dias descansando... OU pedir uma carona que me adiantasse uns 10km da travessia, aliviando os outros dias ainda por vir (esse era o melhor dos cenários!) O tio me informou que duas casas ali tinham moto, e que eu poderia falar com eles no outro dia pela manhã. Eu fiquei aliviado, terminei a janta, e então entrei na minha barraca. A incrível marca de 20h10min eu já estava deitado no colchão e em menos de 5 minutos eu desmaiei completamente extenuado. Acordando, desistindo da travessia e levando um balde de água fria Eu coloquei o despertador para as 6h30min, eu dormi muito bem - acordei quase nada durante a noite. A primeira coisa que fiz ao acordar foi testar a minha panturrilha esquerda - que estava nas últimas no dia anterior: era o meu músculo na situação mais crítica do momento. Muito pela situação da minha perna esquerda é que tinha decidido que precisava diminuir a distancia a ser percorrida nos proximos dois dias, ou talvez até desistir do resto da travessia! - dependeria de como eu iria acordar nesse dia. A panturrilha ainda doía, mas ao menos noite de sono foi efetiva. Eu tinha chegado com a panturrilha no level 2, eu diria, e após a noite de sono, ela estava agora com uma nota 7,5. Bem, se comparado ao dia anterior, mas ainda em uma situação complicada pra começar o dia. Isso era o suficiente para eu decidir NÃO desistir do resto da travessia, mas precisava ter os pés no chão (não literalmente!) e aceitar que eu precisava diminuir em uns 10km a distancia total a percorrer, pegando uma carona com moto, se é que eu queria terminar a travessia vivo. Levantei definitivamente, e as pessoas da casa estavam começando a acordar também. A dona da casa me serviu o café, bem simples, mas gostoso e enquanto isso eu aproveitei pra lhe perguntar sobre a carona que ia pegar. Eu já tinha a carona como algo certo - de acordo com a conversa que havia tido com o tio no dia anterior - mas a dona da casa já não estava tão certa disso -foi a sensação que tive quando fui ter com ela. Ela comentou que ia ligar para o vizinho que tinha uma moto (nem sabia que eles tinham telefone? Será que era celular? eu nem lembrei de verificar se dava sinal durante a travessia). Enquanto eu tomava o café, a dona da casa telefonou (presumo?) pro vizinho que tinha a moto e então ela voltou não com boas notícias: Ela dizia que um dos donos de uma moto não topou me levar pois era uma moto comum (2 rodas) e não daria pra me levar junto a mochila pesada. Já o vizinho, que tinha um quadriciclo, não estava disponível, pois ia pegar turistas la em Santo Amaro e só voltava a tarde. Bem, isso foi um baldasso de água fria pra mim. Na verdade uma BOMBA. Eu realmente não estava esperando a impossibilidade de pegar uma carona. Eu não tinha planejado isso, mas eu achei que seria tranquilo consegui-la! Expressei minha preocupação aos moradores da casa, e o dono da casa me sugeriu que eu ficasse lá aquele dia pra descansar. Eu até tinha 1 dia de sobra (exatamente para esse tipo de porventura) mas eu não achei que seria bom já gastar essa cartada agora! Refleti bastante durante o café da manhã. Concluí que eu só conseguiria prosseguir se eu diminuísse algum peso significativo da mochila e se eu andasse bem devagar. Provavelmente pararia de andar somente após o por do sol novamente. Eu não tinha outra opção! era andar ou.... andar! Esvaziando a mochila - a estorva Acabei o café, desmontei a barraca e me desfiz de alguns miojos e algumas barras de cereal que julguei iriam sobrar. Era muito pouco peso, mas era alguma coisa pra me desfazer e tentar diminuir o estrago que aquele peso insano da mochila estava me causando. Neste momento toda grama contava. Deixei essa comida sobrante com a dona da casa, que ficou muito grata. Comprei uma nova garrafa de 1,5L de água com a dona da casa (custou R$8,00) mas achei por bem carregá-la nas mãos (ao invés de nas costas, como tinha feito no dia anterior). Isso tiraria 1,5kg das minhas costas, e esse peso sim era significativo na conta total sobre meus ombros, apesar que teria que pagar com o preço de carrega-la em mãos (o que era desconfortável) mas pelo menos não doía nos ombros nem pés. Eu também pensei seriamente em me desfazer de algum dos meus itens - algum qualquer. Eu estava com muita coisa: panela, barraca, saco de dormir, algumas roupas sujas e o pior, o meu tênis bem pesado (que tinha usado na chapada dos veadeiros). Tudo isso nas costas. Havia mais itens: como lanterna, repelente dentre outros, mas esses foram os principais. Shampoo e sabonete eu deixei no hostel, nem cogitei levar. Infelizmente, não tinha nada viável que eu pudesse me desfazer a baixo custo. O único que consegui diminuir da mochila foram mesmo a comida adicional (devo ter me desfeito de uns 200g) + 1,5kg de água que agora ia em meus braços.


Me despedindo da casa na Queimada dos Paulo
às 7h em ponto eu botei a mochila nas costas, agradeci a família e disse que precisava andar, pois tinha muita caminhada pela frente. E assim começou o meu dia 2.

O Segundo Dia - Redes, Gaivotas e Jegues Ameaçadores O inicinho do dia foi de teste nos motores. Andei menos de 2km até passar pelas casas da Queimada dos Britos. Sâo cerca de 1,3km de distância entre as duas queimadas. Eu não vi as 10 casas que o sr. cadeirante disse, passei por mais 3 casas só, no total, mas ok. Eu também tentei cortar um caminho entre os arbustos conforme eu tinha desenhado no gps, mas fiquei com medo de inventar e me fuder dentro do labirinto que é a queimada.
Aspecto da trilha entre Queimada dos Paulo e Queimada dos Brito
Essa é a melhor forma de descrever a queimada mesmo: é um labirinto de arbustos e dunas, uma das partes da travessia mais difíceis de transpor, se você não tiver um gps, a meu ver. Apesar das dores na perna, um pouco tempo depois eu estava de novo nas dunas, mais fácil de andar do que dentro da Queimada em si. O esquenta-motores me fez bem e então eu estava muito disposto para o resto da trilha naquele dia. Os dois oásis (Queimada dos Britos-Paulo -- Baixa Grande) distam aproximadamente 6,5km entre si e fiz esse trecho bem tranquilo. Apesar das dores, ter diminuido um pouco o peso da mochila foi eficaz. Fui muito bem, num ritmo igual ao dia anterior (apesar das dores). Eu fiquei com um pouco de medo de estar com o ponto marcado errado no gps e passar batido pela Baixa Grande (segundo oásis) e isso sim iria impactar bastante no resto do dia caso acontecesse, porque eu PRECISAVA recarregar o estoque de água potável antes de prosseguir! Isso era crucial.

Momentos de alegria durante a trilha

Dando uma trégua pros meus pés

Com o chapéu, sempre
Oásis a vista! (2) - Casa da Dete Mas as 11h40min avistei uma casinha e fui feliz para lá. Eu tinha chegada bem na Baixa Grande. Eu estava cansado e pedi um almoço e perguntei se poderia descansar ali. A casa da dona Dete é bem preparada e estruturada para visitas. É muito comum guias ficarem por ali, então a casa da Dete tem um tetinho espécie de refeitório com uma mesa bem grande preparado pra receber muita gente pras refeições. Também tem um espaço pra montar redes e as pessoas dormirem, além de uma duchinha para um belo banho à luz do sol. Eu me esbaldei por ali, e posso dizer que foi um dos melhores momentos de descanso da trilha toda, heheh. Eu almocei cerca de meio dia (almoço saiu logo), tomei um guaraná geladinho (não resisti!) e planejei o resto do dia. Eu planejava voltar a andar as 13h, pra andar o máximo possível naquele dia.
Casa da Edna - refeitório
Almoço servido na casa da Edna
Logo depois do meu almoço, dois guias chegaram com algumas pessoas. Vinham de Atins. Os dois guias e mais um cara que estava já na casa da Dete conversaram bastante (eram amigos) e jogavam sinuca. Conversei com um deles e falei de meu plano: ele sugeriu que eu não saísse as 13h, mas pelo menos as 14, ou mesmo as 15, pra evitar o calor extremo. Ele falou que seria tranquilo eu sair a essa hora. Perguntei a ele se seria tranquilo eu dormir nas dunas à noite. O guia foi bastante simpático, deu dicas e me tranquilizou bastante sobre o resto do passeio. Eu estava um pouco tenso pois a ultima parte eu sabia que ia ser a mais difícil dado que eu estava muito cansado.



Casa da Edna - Baixa Grande
Ele perguntou se eu trazia saco de dormir , eu disse que saco de dormir e barraca, ele falou: -Nãaao, não monte barraca não. -Por que? -Porque o vento vai levar. -Ué, mas então como durmo? -Só bota o saco de dormir no chão, e pronto! Vai dormir com a as estrelas. -Mas... mas.. tem algum perigo assim, algum animal? -Queee perigo. Aqui nos lençóis não tem nada. Pode dormir tranquilasso. Curti essa ideia que até então eu não cogitava. Ele também reforçou que eu descansasse por ali na Baixa Grande mais um tempinho, antes de retomar a caminhada. Reforçou que eu saísse só umas 15h (e não às 13h, como eu tinha planejado inicialmente). A dona da casa também sugeriu que eu descansasse um pouco. Com tanta insistência sobre a hora de saída, eu decidi ficar mais um pouco por ali. Fiz o seguinte, tomei uma ducha gelada que eles disponibilizam para os "hóspedes" (no caso eu naõ era hospede, só cliente do restaurante, mas está 'incluso') que ele disponibilizam para os visitantes e logo depois eles montaram uma rede pra mim. Foi muito muito muuuuuuito bom. Tirei uma soneqeuinha básica e as 14h eu já estava pronto pra andar. Eu não queria deixar pra muito tarde, porque eu queria andar o máximo que eu pudesse naquele dia para tentar deixar o 3o. dia um pouco mais leve. Eu paguei o almoço (R$30,00) e comprei uma água de 1,5L (R$8,00) - mesmo preço pago lá em Britos - e comecei a andar.
Saindo do labirinto e gastando energia a toa Aqui vale lembrar o mini-perrengue que eu passei pra sair da Baixa Grande. A saída de lá não é óbvia. Como eu estava com o GPS achei que ia ser tranquilo, e foi essa a razão pelo qual eu não perguntei pra alguém de lá qual era o sentido correto. Se o tivesse feito, teria evitado esse perrengue pra achar a saída do labirinto. Mas não tinha como eu adivinhar que uma saidinha errada poderia acarretar algumas centenas de metros a mais pra corrigir a rota. A questão é que quando eu percebi que o caminho começou a ficar ruim na saída da Baixa eu já estava a uns 600metros da casa e não estava mais a fim de voltar só pra perguntar e corrigir a rota. Achei que "logo ali" a rota já se corrigiria. Esse "logo ali" teve um preço alto, no fim das contas.
Estilo dos "morros " que se enfrenta eventualmente
Eu acabei saindo pela tangente, e pra corrigir o sentido eu tive que margear a Baixa Grande pela esquerda e esse pedaço foi beeeeem cansativo. Quando eu estava quase caindo em cima da linha marcada no gps, pra finalizar com chave de suor, tinha um GIGANTE monte de areia a minha frente, e pra vencê-lo OU eu andava uns 500 metros pra esquerda (saindo mais ainda da direção) OU encarava o monte de frente mesmo. Acredite: se tem uma coisa que você QUER evitar (E VAI, sempre que possível) nessa travessia são os montes inclinados de areia. São muito muito muito cansativos, e quase nunca vale a pena encará-los de frente. Só que eu não queria neeeem fudendo andar 500 metros pra esquerda, pois isso daria um total de +1km só pra corrigir a rota! Pra vencê-lo de frente eu devo ter gasto uns 20% da minha energia (EU JURO), então já comecei a segunda parte do dia caindo de 100% de energia (recuperado na Dete) para 80%, só no comecinho. Fiquei PUTO! Xinguei demais (a mim próprio). Finalmente caí no sentido correto, rota corrigida! (não foi de graça). E agora meu caro... era linha reta pra Atins, o máximo que desse! SAI DA FRENTE QUE ATRÁS VEM GENTE! Apesar desse cansaço inesperado inicial, agora eu estava na linha certa e o objetivo era andar o MÁXIMO que desse, mas, com uma limitação: eu PRECISAVA parar em algum lugar com água disponível para eu passar a noite e para repor o estoque de água pra fazer o terceiro dia todo sem morrer , literalmente, de sede. É que ao contrário da primeira pernoite, eu não teria base de apoio pra dormir e iniciar o terceiro dia com água potável.



Eu havia saído da Casa da Dete com 2L de água potável e tentei poupá-la ao máximo durante a segunda parte do segundo dia. Consegui terminar o segundo dia com 1,5L de água potável ainda, mas é claro, isso tendo consumido bastante água de cada lagoa que eu passava (não consumi muitíssimo - mas consumi bastante). eu sabia dos riscos desse consumo sem purificação. Mas os corri assim mesmo.
As gaivotas amedrontadoras A segunda parte do dia também foi tranquila, e eu mantive a minha velocidade de 3,5km/h. fui muito bem! (dadas as condições). A parada em Dete ajudou bastante... Parei em várias lagoas (esse "lado" da travessia estava melhor do que perto de Santo Amaro). Nesse trecho também houve vários lugares onde as gaivotas se incomodaram com a minha presença. Eu esqueci de dizer antes nesse relato, mas as gaivotas me importunando a cabeça foi algo recorrente em vários pontos durante toda a travessia. Desde o começo do primeiro dia até então, várias vezes as gaivotas vinham me importunar. A primeira vez que isso aconteceu durante a travessia, eu fiquei bem assustado com o ocorrido: Basicamente uma gaivota me via, e começava a gritar em cima da minha cabeça, e ficava sobrevoando a minha cabeça, fazendo rasantes, como se fosse me atacar. Na primeira vez que isso ocorreu eu realmente achei que ela ia me atacar. Depois acabei percebendo que provavelmente era a gaivota que avisava o resto da familia (ou grupo) que havia um intruso perigoso por ali (para elas, eu devo ser alguem perigoso que quer caçá-las). Esse tipo de pássaro que avisa o resto do grupo tem um nome, mas eu não me lembro como se chama. Esse comportamento da gaivota se repetiu VAAAARIAS vezes durante toda a travessia. Sempre que eu chegava em algum lugar melhorzinho com um lagoa por perto, chegava uma gaivota alertando pela minha chegada. Elas ficavam sobrevoando minha cabeça por quase 1km. É um pouco incômodo. Em uma das vezes, muito possivelmente eu passei muito próximo da morada do resto do grupo, pois em dado momento, além da gaivota sobre a minha cabeça, mais duas gaivotas me encaravam DE FRENTE fazendo rasantes meio assustadores, e escapando a cerca de 1m do meu rosto. A sensação é que elas iam me bicar na cara. É a forma desses animais te intimidarem e a lhe fazerem desistir de não caçá-las e não amedrontá-las. Se ao menos eu pudesse informala-as que eu era pacifico e só queria passar... mas fazer o que. Pois bem, nessa parte da tarde do segundo dia, muitas gaivotas me acompanharam e então, lá por volta as 17h , eu comecei a me preocupar com água. Eu sabia que quanto mais próximo do mar eu estava menos água potável disponível eu teria, e eu não sabia exatamente onde seriam os últimos pontos com água doce disponível. Realmente, nos últimos 2km até dar as 17h as lagoas começaram a rarear, e quando deu mais ou menos 17h30 eu avistei uma planície muito extensa mas meio seca. Dava pra ver vários animais em várias pocinhas comendo e tomando água. Não era o melhor dos lugares, mas quando chegou próximo de 18h, eu achei que era prudente parar por ali, pois apesar de não haver uma lagoa, havia poças de água. Eu não tinha como garantir que pra frente haveria algo melhor do que aquilo! Eu caminhei bastante pela planície, e cheguei agora mais ou menos próximo de alguns animais que estavam por ali. Eram jegues, ou burros, eu não sei exatamente qual a espécie do animal. Eu estava me direcionando para perto de uma das poças pra me recolher por ali, onde eu dormiria, mas foi então que um jegue, a cerca de uns 300 metros ( ou menos, não sei exatamente) começou a me olhar de frente.
O Jegue Valente - medo Eu tinha esbarrado com vários outros jegues pela travessia toda, mas em geral, quando esses animais me avistavam eles se afastavam, isso beeem antes de eu chegar perto. Porém, ESSE jegue, em específico, não se afastou! Em um dado momento eu me sentei no meio do nada na planície, ignorando por ora o jegue que não havia se afastado. Eu estava descansando, e reparei que nada de o jegue se afastar. Eu achei um pouco estranho. E aos poucos comecei a parar de ignorá-lo ou subestimá-lo. O jegue estava a uma distância que eu conseguia ouvi-lo. Eu percebi que ele me encarava e então ele começou a dar umas bufadas. Confesso que me assustei. De ignorância total passei a ligar o alerta amarelo. Me levantei prontamente, achando que a minha altura e mochila iriam intimidá-lo, mas não foi o que aconteceu! O jegue começou a dar umas corridas entrecortadas, e NA MINHA DIREÇÃO! Ele estava meio longe ainda. Mas eu fiquei bem assustado com aquele avanço dele. Ele avançava, bufava, e continuava olhando pra mim! Ele não recuou. Continuou avançando e ele estava sim pronto pra me atacar! Alerta amarelo quase no vermelho. Hora de agir. Frente as investidas dele eu resolvi mudar completamente a direção que eu pretendia seguir até então. Havia um monte para a direita, totalmente fora da direção que eu tinha que seguir, mas eu nao ia correr o risco de ser atacado a aquela altura do campeonato! Ele era um jegue, mas isso seria muita burrice! O jegue continuou me encarando firme forte e valente! Mas como agora eu estava me afastando dele, ele parou de bufar e não deu mais passos. Eu andei bastante para a direita, me afastei dele, até chegar ao fim do monte a fim de contorná-lo. Depois de contornar, eu meio que voltava pra mesma planície aonde estava o jegue, só que bem mais adiante, de forma que ele não achasse que eu era uma ameaça. Por sorte assim minha estratégia funcionou, e eu acabei chegando bem cansado as 17h30min mais ou menos em um ponto onde havia umas pocinhas de água. Devo dizer que eram umas pocinhas BEM pequenas, a água não estava muito boa, mas a planície era bem grande e eu não podia correr o risco de andar mais alguns quilômetros MAS não encontrar mais água potável pra repor meus estoques hídricos. Tanto poderia acontecer de haver lagoas grandes adiante como poderia não ter ABSOLUTAMENTE NADA (nem mesmo pocinhas!). Por isso decidi dormir por ali mesmo. Certamente não era um local ideal. Mas também certamente era um local com segurança pra eu não morrer de sede literalmente.

Gramde planicie com uma lagoa seca - só tinha umas pocinhas

Por do sol no segundo dia - dormindo nos Lençóis sem estrutura
Hora de dormir: Fiz como o guia me disse: tirei meu saco de dormir e só. Enchi a garrafinha pequena de água (ainda me sobrava 1,5L de água potável que eu tinha comprado na casa da Dete). Comi um lanchinho tranquilo e mais ou menos as 18h30min eu me deitei dentro do saco de dormir pra começar a recepcionar as estrelas.

Ao lado de um morro pra me proteger um pouco do vento

A pocinha de onde eu bebi água é aquela ali atrás. Pois é... 

Minha cama no segundo dia
Assisti-as um pouco, levantei ainda algumas vezes agora já um pouco escuro, pra arrumar umas coisas na mochila. E agora com a lanterna reparei que estava, provavelmente, muito próximo de algum ninho de alguma gaivota, porque elas ficaram desesperadas quando eu liguei a lanterna. Foi uma gritalhada do cacete! Assim que eu apagava a lanterna, elas quietavam. Eu arrumei tudo, e as 19h eu já estava de volta ao saco de dormir, pra...isso mesmo... dormir! (ou tentar....)
Eu, as estrelas, o vento... e o retorno do Jegue! Cedo assim porque.... eu pretendia acordar as 3h pra começar a andar. Eu me decidi por essa estratégia porque eu estava bem cansado no fim do segundo dia, e o segundo dia não tinha ido tão bem quanto eu tinha planejado. Se eu começasse o terceiro dia, então, as 3h da manhã, eu teria 4h, mais ou menos, de caminhada sem sol pesando. Se eu soubesse que havia mais água mais a frente eu teria já adiantada mais uns 2 a 4km tranquilo nesse segundo dia, mas eu não tinha essa garantia... Andei 21km no segundo dia. Foi uma boa pernada! mas ainda abaixo do eu tinha planejado...Isso ainda deixava cerca de 20km para o terceiro dia. Muita... muita coisa dado o meu cansaço. Pelo menos eu tinha conseguido manter a minha perna com o mesmo level de dor. Não tinha piorado tanto assim. Mas eu sabia que o terceiro dia ia ser punk, já sabia muito bem. Deitado no saco de dormir tentei dormir, e... vai saber... devo ter conseguido dormir em alguns poucos momentos. A qualidade do sono foi bem ruim. Uma experiência única, de dormir sozinho no deserto, dentro de um saco de dormir, sem barraca. Mas venta pra caralho. Eu não sei se é pelo fato de que as 22h eu já estava meio sonâmbulo ou se é porque realmente o vento piora, mas eu sei que as 22h , quando acordei em dado momento, tava ventando tipo assim, muuuito, muuuuuuuito mesmo. Eu coloquei o meu saco de dormir com a entrada contra o vento, obviamente pra não entrar areia dentro, e botei a minha mochila fazendo uma espécie de barricada pra me proteger um pouco do vento. Nesse momento quando acordei aleatoriamente, virei para atrás e o que eu avisto? Um jegue a aproximadamente 50m de distancia, tava MUITO PERTO. EU JURO QUE ME DEU UM FRIO NA ESPINHA, JA ME IMAGINEI MORTO. Dava pra avistar sua silhueta mesmo sem lanterna, apenas com as luzes das estrelas. Eu GELEI na hora. Se aquele bicho decidisse me atacar agora eu tava só MUITO fudidasso. A única coisa que consegui pensar foi em fuga. Tinha o GPS e lanterna a mão, qualquer coisa era só sair correndo! (pensei comigo mesmo) Eu continuei imóvel, quase em pânico silencioso, com os olhos arregalados, Mas acho qeu o jegue viu o meu vulto, deu meia volta e achou mais prudente ir embora. Ainda bem! A minha noite foi assim, totalmente entrecortada, eu acordando assustado várias vezes com o vento, checando se algum jegue não ia me dar coices, hahahah ,cômico, mas trágico, e nada confortável, diga-se de passagem. O vento várias vezes dava pancadas na minha mochila ou panos sobrantes do saco de dormir. Foi uma noite terrível. Interessante, mas qualitativamente terrível. Dormi alguma coisa, mas muito mal. Certa hora eu acordei, sabia que ainda era cedo, liguei o gps pra checar o relógio, eram ainda só 2h da manhã. A noite não tava rendendo. Levantei e decidi: vou começar a andar já. Dia 3 - A Visitante Misteriosa e o Choro Bem... o ânimo pra andar tava zero. Mas eu sabia que quanto antes eu começasse, quanto antes eu terminaria (e com o mínimo possível de sol na cabeça). Eu sabia que grande parte do terceiro dia ia ser na beira da praia, então não ia ter muita surpresa. O único chato dessa decisão é que a parte mais legal do terceiro dia eu faria sem luz (durante a madrugada) que era a parte ainda distante da orla, onde eu poderia ver mais lagoas ainda. E a parte com sol seria exatamente sobre a orla. Mas eu prefiri abrir mão de ver lagoas, do que arriscar chegar muito mas muito esbagaçado em Atins. Arrumei minhas coisas, estava com as garrafas de água cheias, botei a mochila nas costas e comecei a andar, com muito vento. O vento incessante, mas, como eu disse, aparentemente bem mais forte do que durante o dia. Liguei o GPS e simplesmente tracei uma linha reta até Atins. A linha reta era o traçado ideal: o menor caminho possível e sem ir pela orla (que eu já sabia de antemão que não tinha graça). Por alguma razão o dono do track que eu tinha marcado não havia feito essa linha reta, ele fez uma reta mais fechada, caindo rapidamente para a orla e depois caminhou sobre o "cateto", cerca de 17km sobre a orla (o que era muuuuita coisa) - eu me perguntei desde o início porque ele teria feito isso...? Então, pela primeira vez em toda a minha travessia, eu me desvinculei do track marcado, para tentar diminuir a distância total que eu ia percorrer. Em linha reta dava uns 19km.... Logo no começo, tipo a apenas 500m de distancia de onde eu havia dormido esbarrei com uma lagoa GIGANTESCA , onde teria sido beeeeem melhor ter dormido la, por causa da água de melhor qualidade. Deu uma raivinha, mas não tinha como eu prever no dia anterior que ela existia. De qualquer forma, eu esvaziei a garrafa de 0,5L (que eu tinha enchido na pocinha suspeita) e enchi com esta água que era melhor. Pelo menos estava com mais água boa pra tomar agora. Eu não comecei bem esse terceiro dia. Comecei já cansado, também pudera, eu não dormi quase nada, então eu recarreguei poucas energias. Eu tive que acionar desde o começo o modo "passo de bebê". Esse modo é aquele onde você apenas pensa num passo após o outro. Não fica pensando muito na média geral. Eu apenas colocava uma nova meta: a cada quilômetro andado e parava de pensar no objetivo final que parecia muito longe, na verdade, estava DE FATO , bem longe. No melhor dos cenários: 19 FUCKING KM. (era o que eu pensava a todo instante. 19 fucking kms!) Apesar de não começar muito bem, eu mantive a mesma média dos outros dias. Caminhando numa média de 3,5km/h e parando bem pouco. A cada km conquistado eu fazia uma breve paradinha pra tomar uma água. Com essa média a minha estimativa era de chegar em Atins às 10h da manhã, prevendo que no final a minha velocidade média iria cair bastante.
Transformação do terreno e obstáculos... muitos obstáculos Como os primeiros quilômetros foram de madrugada, eu simplesmente não vi nada. Eu apenas tinha a lanterna e o gps pra me guiar. O terreno no terceiro dia se alterou bastante. Já não havia tantos montes, parecia que em geral eu estava andando em planícies, mas secas. De fato, após a gigantesca lagoa que eu passei logo no inicio da caminhada do terceiro dia, eu não passei por mais NENHUMA lagoa até o fim da travessia! É claro que é bem possível que eu tenha passado perto (e batido) de alguma mas não ter avistado por falta de luz. Mas fato é que mesmo seguindo quase em linha reta, nenhuma lagoa apareceu na minha frente, o que comprovou que eu tomei uma decisão acertada ao parar as 17h do dia anterior naquelas pocinhas. Teria sido bem arriscado seguir mais adiante. Como eu disse, o terreno estava diferente. Não havia montes, a sensação era de já estar bem próximo da orla, pois parecia que eu estava já no nível do mar, andando em areia mais fofa, apesar de ainda não estar próximo do mar. Se eu traçasse uma perpendicular para a orla, estava a mais ou menos 6km da orla ainda. Muita coisa! Em alguns momentos o terreno ficou desagradável, com areia fofa, e era bem cansativo andar por ele. Xinguei bastante em alguns momentos. Tive gaivotas desesperadas me acompanhando por grande parte do trajeto também pra aumentar um pouco o stress da caminhada. Após apenas 2km de caminhada eu conclui que o terreno estava no geral muito ruim. A areia fofa tirava muita energia com a mochila nas costas. E foi aí que comecei a entender porque o dono do track que eu tinha gravado em meu gps havia começado a caminhar tão rapidamente em direção à orla ao invés de fazer uma linha reta (o ideal) até Atins. Foi mais ou menos com 2km , então, que eu tomei uma decisão estratégica e simples: a cada momento que eu me encontrava em um terreno ruim, eu mudava a direção e mirava pra uma perpendicular para o mar. Se o terreno melhorava, eu corrigia a direção fazendo linha reta para Atins. Dessa forma, tentei maximizar meu custo-benefício. Foi um sem-parar de mudança de direção, mas sem nunca prejudicar o objetivo. Procurei o melhor terreno possível, mesmo vendo pouco.
A Visitante Misteriosa - ADRENALINA na madrugada! Foi então que mais ou menos as 4h30min da manhã eu avistei uma luz alaranjada ao longe. Achei a luz bem estranha! Pensei primeiro se tratar de uma casa de pescadores que se encontrava muito ao longe, mas assim que eu caminhei um pouco para a esquerda pra ter noção de distância em um golpe de olho, tive a CLARA E INCÔMODA sensação que a luz estava muito muito mais perto do que eu imaginava! Bateu uma sensação de perigo iminente, juro que me deu um calafrio. Achei estranhasso aquilo ali. Por que ninguém tinha informado sobre luz no meio da trilha?? E as 4h30min da manhã?? Cara… depois de encarar um GELO com jegues amedrontadores, não tem nada mais espantoso do que ver uma luz no meio de um DESERTO, no meio da madrugada, próxima a você e completamente sem explicação nenhuma. Uma luz aparecer DO NADA … Quase caguei nas calças. Mudei completamente a direção, com os olhos arregalados e transpirando adrenalina, tentando me despistar da fonte de luz, agora indo em sentido contrária ao da praia, mas ainda mais ou menos em direção à Atins. Eu só pensei em me esconder. O meu susto durou uns 30 segundos porém. Enquanto me desviava sem tirar os olhos da misteriosa e inexplicável luz, eu estava subindo um raro monte nessa direção quando então as nuvens saíram da frente da fonte de luz, até que foi possível ver o que era aquela fonte: A lua. É, pode rir. A luz inexplicável, laranja, enorme, e que parecia tão perto e amedrontadora, era a lua. Ri de mim mesmo! O que ocorreu é que a luz da lua misturado com o tempo nublado deixou a luz bem estranha e por alguma razão eu tive a falsa sensação que ela estava muito perto. Passado esse susto, talvez o último de toda a travessia, eu continuei com a minha estratégia "melhor-terreno sob passo de bebê." Depois desse engraçado susto com a lua, minha única companheira e testemunha até o nascer do sol, prossegui caminhando agora já com muito custo, em direção ao litoral. No fim das contas acabei fazendo um meio termo entre o track que eu tinha marcado no GPS e o track ideal, que seria a reta direto para Atins.
Traçado vermelho: foi o que eu fiz
Em roxo: o track que eu tinha gravado no meu GPS (alguém fez esse traçado)
Em amarelo: o traçado que eu considerava, a principio, o ideal, porque era em linha reta. Mas acontece que o terreno nessa parte amarela (que eu não andei) é muuuuito ruim, muita areia fofa. Eu tentei fazer esse traçado o quanto possível, veja como eu me desviei do traçado roxo. Porém, cada vez que o terreno ficava ruim, eu me direcionava para o litoral. Se melhorava, eu voltava a mirar Atins. Mas, como você pode ver, eu acabei caindo para o litoral rapidamente. No fim das contas eu andei quase que o mesmo tanto do qeu o traçado roxo, mas em um terreno pior.
Segui sempre a estratégia de terreno bom x terreno ruim, e em algum momento acabei chegando no litoral. Isso se deu com apenas 7km de trilha, e cheguei ao litoral quando o sol deu sinais de que ia aparecer, as 5 da manhã.

Chegada tensa no litoral - Alerta vermelho Foram, então, 3h de caminhada no escuro. Cheguei ao litoral. Parei e olhei no quanto faltava para Atins. Incríveis 14km. Eu confesso que nesse momento bateu um desânimo muito grande. Não que eu não soubesse da distância total que faltava, apenas estava constatando que eu estava muito cansado.É como se eu tivesse chegado ao litoral e tivesse completado a parte legal da travessia. Agora só restava rastejar pra chegar de 4 dentro da pousada. O final dessa jornada foi apenas aterradora. Um castigo. Uma tortura. Apenas isso posso falar como resumo das ultimas horas que caminhei. Quando cheguei ao litoral eu já estava com as energias muito baixas, já meio que na reserva. Mas faltavam ainda incríveis 2\3 da caminhada inteira! 14km... O vento estava forte e eu estava bem cansado. Não vi uma sequer viv’alma por durante todo esse trajeto do terceiro dia, a não ser nos últimos 2km de trilha. Mais do que nunca agora eu caminhava um pé trás o outro, sem pensar demais na quantidade total de kms que ainda faltavam, sob pena de angústia ou desespero. Quanto mais eu andava, mais uma curta distância era uma vitória. O cansaço e esgotamento chegou a tanto que eu sofria amargamente de olhar para o GPS e achar que ele estava quebrado, pois nunca o odômetro virava pra contabilizar mais 100m! Cada 100 metros foi uma tortura, nunca vou me esquecer dessa sensação amarga. Pelo menos eu tinha a certeza de que o terreno não teria surpresas. Era praia agora. Chão batido e firme - caminhei próximo ao mar. A minha meta era parar e descansar por 2 minutos a cada 2km completados. Fiz isso mais ou menos até faltarem 7km.
O mar e o rio Preguiças - a tacada de sorte e o drama Mais ou menos no meio dessa segunda parte da jornada (junto ao litoral), o terreno começou a ficar ruim- e eu não conseguia mais contar com novos obstáculos pelo caminho. Por falta de conhecimento, eu não entendi muito bem aquele rio no meio da praia, e foi por puro acaso que decidi andar ao lado direito desse rio - que a primeiro momento julguei que iria terminar daqui a pouco, a praia então voltando a normalidade de até então.
Eu sei que pelo google maps parece OBVIO que vindo de Santo Amaro e indo pra Atins, tem que se ficar a direita, pra não cair na peninsula que o rio faz. Porém, quando você está nesse terreno isso não é NADA obvio. A região é muito grande, você não tem essa visão do alto fácil.
Mas não se preocupe: se vc for fazer a travessia Atins --> Santo Amaro, não vai ter esse problema. O problema só acontece se você estiver vindo de Santo Amaro, porque aí sim vc pode errar sem perceber, e se fuder (só percebe o erro uns 10km depois).
FELIZMENTE eu decidi ir pela direita, porque só depois que terminei o passeio e vi o mapa em BH é que enxerguei que a caminhada pelo litoral era dividida pelo rio que encontra com o mar. Se eu tivesse ido pela esquerda, teria conseguido andar mais cerca de 10km pra só depois entender que teria que atravessar NADANDO pra chegar a Atins - O QUE SERIA IMPOSSIVEL. De fato eu teria morrido EU ACHO, se isso tivesse acontecido. (pois teria que andar 10km adicionais não previstos! DEZ!) Por sorte eu peguei a direita do rio, momento onde o terreno fica um pouco pior do que o previsível terreno da praia normal, mas pelo menos era o lado certo! Eu não soube dessa tacada de sorte, então apenas o que tinha em mãos (aliás, em pés! E que pés!) era um terreno chato e enjoado de andar. Eu não estava aguentando mais. Passei pelo que julguei ser o Canto de Atins, lugar bonito, pena eu não ter forças de curtir por ali. Neste momento a caminhada saiu completamente do litoral e passou por um terreno enjoado, mas com muita grama. Mais adiante um pouco, e eu estava de volta ao litoral: um pouco temeroso de estar seguindo o caminho errado. Julgo que para pessoas sem GPS e que não conhecem o local esta região pode ser bastante confusa.


Passando batido por Canto de Atins - não porque eu não vi - mas não tinha mais nenhum pingo de energia sobrando pra fazer algum braço de trilha. Aí provavelmente é a Pousada do Sr. Antonio (a 6km de Atins)
Em dado momento da caminhada comecei a me perguntar se o ponto que estava marcado “Atins”, no GPS - e que até então eu tinha levado como cláusula pétrea - teria risco de estar marcado errado? Essa possibilidade me aterrorizou. Imagina se ao invés de 6km, faltam 12km??? Ia ser meu fim. Mentira, se fosse só +1km do que o previsto, eu já ia chorar.

Praia de Atins - chegando à civilização

Praia de Atins - cheguei
Eu estava contando cada centímetro da minha caminhada. Não dava mais! Neste momento em diante eu já não tinha mais o mínimo de prazer. Não consegui curtir nada da praia. Eu simplesmente queria chegar e descansar os meus pés. Só isso.
Os 8km finais sem fim - dramáticos Mais ou menos às 7h da manhã eu tinha andado já uns 13km - faltavam ainda 8km. Isso se o ponto marcado realmente estivesse certo! "Por favor, que sim!" (mentalizava com muito temor) Eu tentava me tranquilizar botando na cabeça que 8km era simplesmente uma ida para a Cachoeira Farofa na Serra do Cipó! Em condições normais, uma barbada! Nas condições em que eu me encontrava um suplício sem fim. Inacreditável como aqueles 8km pareciam ser um infinito pra mim. A minha vontade agora era de chorar. Os meus pés doíam absurdamente. Cada passo era como se estivessem me torturando. Não exagero! Já não conseguia mais cumprir a meta de 2km sem parar. Agora, a cada km eu parava e me obrigava a descansar 2 minutos. Só que eu estava tão desesperado pra chegar, que não conseguia ficar parado! Então parava cerca de 30 segundos e continuava a andar. Sendo que já quando voltava, apenas 50 metros de caminhada já eram suficientes pra eu querer parar de novo! Um paradoxo de pesadelo torturante e horrível. Eu me senti em um filme de terror, eu juro. Quis tanto que aparecesse um carro, um jipe, um cavalo, uma carroça, um patinete, um jegue amedrontador pra me levar, qualquer coisa! Não hesitaria nem um milésimo de segundo em aceitar uma carona dessa vez! Não existia mais nem um pingo de orgulho restante pra me atrapalhar na decisão. Eu já tinha pagado todos os meus pecados, com toda a certeza.

Barri decorrente do encontro do Rio Preguiças com o Mar, em Atins
Nunca vou me esquecer de quando completei a marca de 17km. Faltavam 4km. Nesse momento eu era um trapo humano. Sério. Não dava mais. Eu não conseguia compreender como aquela mochila podia estar tão pesada. Em uma derradeira tacada, a última cartada que eu tinha disponível para jogar, removi os tênis da mochila e calcei-os. Era menos um peso significativo pra carregar nas costas + proteção pros meus pés que estavam no limite do impossível. Essa última alteração de estratégia (calçar os tênis) só foi possível porque o terreno próximo à Canto de Atins era mais firme (e posteriormente no litoral também, na parte final). Calçar os tênis me deu um alívio que foi MUITO considerável para esse sprint final. Não é que as coisas ficaram fáceis, mas foi tipo uma dosesinha DERRADEIRA de energia (a extra da extra da extra!) que eu tanto precisava naquele final dramático. Às 8 da manhã eu tinha alcançado inacreditáveis 18km no dia - pra mim, algo impensado, surreal - e segundo meu GPS faltavam agora 3km. Não me esquecerei da última pedra na praia, local onde parei , tomei um ar, tomei um grande gole de água potável, levantei a mochila e decidi que era hora de terminar aquela travessia agora mesmo.
A Reta Final - sem olhar para os lados Fiz os últimos 3km com muita força e sem parar. SEM PARAR. Direto. Eu não aguentava mais andar. Queria um banho e cama. Fui direto, sem parar, QUASE CHOREI! Engoli o choro e continuei andando. Andei quase os 3km sem olhar para os lados e num ritmo muito forte. Eu arranquei energias das entranhas, dos confins do meu corpo que eu nem sabia que poderiam sequer existir. A minha estimativa era terminar tudo lá pras 10h da manhã, mas eu não aguentava mais, sério! Era hora de acabar. Apertei o passo e mantive com firmeza a média de 3km/h sem titubear. E então comecei a avistar algumas pessoas. Quando o relógio bateu as 9 da manhã, eu passei perto de um pescador e perguntei se ali era Atins? Ele disse que sim, bastava agora eu entrar “por aqui, por ali, vire ali” (me apontou as direções para chegar ao povoado, saindo da praia e entrando no povado, metros finais). Avistei “o mato”, uma entradinha. Contornei e fiz as direções como indicado. Eu pisei em Atins às 9h12min da manhã. O sol estava muito forte. Agora eu precisava só achar a pousada onde eu tinha feito a reserva. Entendi que era um pouco difícil encontrar as pousadas por ali andando, principalmente pra quem estava nas últimas, depois de 21km de caminhada. Entrei no primeiro restaurante que vi, pedi uma coca-cola gelada em troca de dinheiro e algumas informações. A minha situação era completamente deplorável. Não tenho ideia do que o rapaz que me atendeu no restaurante deve ter pensado a meu respeito. De qualquer forma, o rapaz muito atencioso me deu as coordenadas da minha pousada. Faltavam cerca de 500m. Eu não conseguia acreditar que eu tinha conseguido. Mas não conseguia pensar em mais nenhum centímetro de caminhada. Se alguém falasse “faltam 2 metros” , isso me doía o coração só de pensar. Tomei a coca-cola, era como se tivessem devolvido a minha alma, ou parte dela. Voltei à rua de areia, andei os 500 metros faltantes, e depois de perguntar a direção pra umas 3 pessoas, cheguei, finalmente, na Pousada Nativa, o muro azul. O famigerado muro azul. Um senhor me atendeu.
O Desmonte Eu disse que tinha feito uma reserva. Ele confirmou e me apontou meu quarto. Entrei. Era um quarto muito simples, mas tinha duas coisas que pra mim eram ouro naquele momento: uma cama e um chuveiro.
Indo embora pra casa - no dia posterior, sentindo um arrepio vendo de cima onde eu pisei. A Queimada dos Britos, a Baixa Grande claríssimos. Até breve , Lençois Maranhenses
Atins ao fundo, com o Rio Preguiças e suas voltas - Até breve!
Joguei a mochila no chão, tirei minha roupa, abri a ducha. Assim que a água do chuveiro caiu em mim, eu surpreendentemente comecei a chorar, pela primeira vez na minha história de 10 anos de experiências com trilhas. Chorei de dor, de emoção da superação, eu acho. De ter chegado a um limite extremo. Tomei banho sentado. Eu não conseguia ficar em pé. Lavei meus pés acariciando-os como se eles tivessem sido trucidados a um fio da morte - e eu acho que foram - inchados e muito doloridos, enquanto ria nervoso, ou chorava junto, eu não sei. Então… me deitei, fiquei imóvel assim por 2h, até voltar à um mínimo grau de normalidade possível. Minha situação era inimaginável.

Tinha sido muito maior e desgastante de tudo que eu planejei. Acordei ainda sem acreditar na surrealidade do que eu tinha acabado de viver. Saí, almocei e voltei para o hotel, aonde passei o resto do dia dando de volta aos meus pés toda a energia que eles deixariam impressos pra sempre nas dunas dos Lençóis Maranhenses, essa trilha inesquecível e inacreditável. Talvez, para outros que lerem este relato - ou quando eu voltar depois de alguns anos pra relê-lo - vão achar que está dramático demais, ou exagerado demais. Mas talvez, se a minha memória funcionar direitinho e não falhar, eu vou saber que foi exatamente assim.




Links e Referências

Os Caçadores de Cachoeiras

Os Caçadores de Cachoeiras